quinta-feira, 14 de março de 2013

Andarilhanças 66

As palmadinhas nas costas
            Tomo conhecimento cada vez mais de exemplos flagrantes desse tipo de comportamento. A todos os níveis. Desde as mais altas estruturas do Estado ao funcionário mais humilde.
            «Olhe, a senhora deixa de ser secretária de Estado a partir de amanhã» – mensagem de telemóvel.
             Tenha paciência, amanhã já não entra no seu gabinete do museu!» – e ainda na manhã desse dia, em reunião, se haviam perspectivado iniciativas e se louvara todo o trabalho desenvolvido.
            Teceu em público o senhor director os mais rasgados elogios à enorme dedicação daquele docente; mas, nesse mesmo dia, sem nada lhe dizer, assinara a sua destituição de encarregado da biblioteca da Escola…
            Mundo, este, onde não apetece viver!
 
«Não estamos na Moody’s»
            A importância incrível que têm as agências internacionais que apreciam se o País tem, ou não, condições para pagar e se, por conseguinte, vale a pena investir nos títulos de dívida pública que ele vai emitindo.
            Um mundo subterrâneo que ora de supetão veio ao de cima, para nos explicar que, afinal, os dinheiros que tínhamos não eram nossos, que a soberania nacional foi chão que deu uvas e que os mandantes, no fim de contas, não são aqueles que nós lá pusemos por força do voto. Títeres são e bem no sabem. Por isso, títere por títere, houve o candidato Tiririca no Brasil e ganhou; houve, recentemente, o Beppe Grillo, em Itália, outro comediante, e ganhou. Assumiram-se.
            Circula por aí um vídeo intitulado «We are not in the Moody's – a resposta de Portugal». Explica tintim por tintim quem somos e o que fizemos desde 1143, quando a maior parte dos países da Europa ainda nem tinham definido fronteiras nem falavam língua própria…

Há dificuldades na comunicação
            Quantas pessoas leva o Terreiro do Paço? Para a missa em que esteve o Papa, em 2010, uma praça onde não cabia mais ninguém, apontou-se para 80 a 100 mil pessoas; em 2013, na manifestação de 2 de Março, à hora em que se cantou o Grândola, havia algumas clareiras e… calculou-se que estariam 500 mil manifestantes!
            Faz lembrar aquela corrida em que houve apenas dois participantes: o vencedor ganhou para o País a que pertencia e ficou em penúltimo nos noticiários do País adversário!...

Inversões
            Assim, no passado dia 3, Sara Moreira consagrou-se campeã europeia dos 3000 metros, nos campeonatos de atletismo em pista coberta, realizados em Gotemburgo, na Suécia. Medalha de ouro, a primeira que um atleta português consegue na modalidade.
            Foi o assunto tema de abertura nos noticiários?
            Não.
            Houve outros assuntos mais importantes, como as declarações de um qualquer visionário que decidiu botar faladura; como a do possível novo corte nas pensões; como os resultados da sondagem feita a um escasso milhar de pessoas e que, por isso mesmo, autorizou a explicar o que ‘os Portugueses’ pensam do Presidente da República, das manifestações, do ordenado mínimo…
            Um escasso milhar embandeirado em arco, de opiniões incontroversas – de acordo com as regras por que se fazem sondagens e se montam estatísticas… E assim «os Portugueses acham…», «40% dos Portugueses discordam…», «20% dos Portugueses acreditam…»…
            E de Sara Moreira falou-se lá para o meio, quase como quem não quer a coisa!...

Publicado em Jornal de Cascais, nº 333, 13.03.2013, p. 6.

 

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