segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cerimónia no Casino teve elevado sentido cultural

             Presidida pela senhora Presidente da Assembleia da República, realizou-se, na passada sexta-feira, dia 5 de Julho, no auditório do Casino Estoril, a cerimónia de entrega dos Prémios Literários da Estoril-Sol referentes a 2012, cerimónia que deteve mui elevado sentido cultural, não apenas pela solenidade com que se fez questão de envolver o acto, mas sobretudo pelas bem oportunas intervenções que nela se puderam escutar.
            Prevista para as 18 horas, a sessão iniciou-se já quase às 19.
            Dinis de Abreu, responsável pelo Departamento de Comunicação da Estoril-Sol deu por aberta a sessão, em nome da senhora presidente, e foi o Dr. Mário Assis Ferreira, presidente do Conselho de Administração da Estoril-Sol, o primeiro a usar da palavra.
 
O escalpelizador discurso de Mário Assis Ferreira
            Do seu discurso cumpre-nos salientar alguns passos, pelo enorme significado que detêm na actual conjuntura político-económica. Assim, Assis Ferreira começou por afirmar que «perante progressivas e continuadas quedas de receitas» sofridas, se vira forçado «este ano, a mitigar, em algumas vertentes, a pureza conceptual do pioneiro modelo multidisciplinar de Casino que, ao longo de mais de duas décadas», erigira «como matriz diferencial da Estoril-Sol». E esse modelo, explicitou, detém, por «intrínseca convicção» imprescindível tónica cultural: se «imperativos de austeridade» obrigaram «a reduzir a oferta de espectáculos e de animação», «outros irrenunciáveis imperativos» «impeliram a manter, até ao limite do possível, os Prémios Literários instituídos pela Estoril Sol, do mesmo passo que», acrescentou, «não abdicámos de oferecer aos nossos visitantes uma Galeria de Arte com um espaço generoso, por onde têm passado os trabalhos dos mais importantes nomes das nossas Artes Plásticas».
            Referiu-se de seguida às 15 edições ora completadas do Prémio Fernando Namora, a que recentemente se acrescentou, «já com o patrocínio de Agustina Bessa-Luís, o Prémio Revelação com o seu nome», que veio eficazmente contribuir para a descoberta de novos talentos.
            Por conseguinte, concluiu, «a promoção da Cultura é um desígnio que nos acompanha desde há muito e ao qual nos queremos manter fiéis, não obstante as contrariedades resultantes do clima depressivo que tem assolado o País». E, dirigindo-se, de modo especial, à Senhora Presidente da Assembleia da República, Mário Assis Ferreira, não hesitou em afirmar:
            «É em períodos de crise, como aquele que vivemos – e a que o Turismo, bem como o nosso sector de actividade não estão imunes – que precisamos de responder com energia, criatividade e determinação.
            Não me canso de repetir, desde há mais de duas décadas, que, por vocação e dever cívico, a Estoril-Sol tem um compromisso sagrado com a Cultura e com as Artes.
            E, nesse particular, somos “Egoístas” – aliás, como o soube ser essa revista de vanguarda, baptizada de “Egoísta”, multipremiada no País e no estrangeiro, que se transformou em ícone e publicação de culto. Um milagre de sobrevivência, este ano infelizmente interrompido, mas que nos empenharemos, num futuro próximo, em reanimar.
            Ocorre-me, bem a propósito, Eduardo Lourenço que um dia escreveu: «Somos um povo entre os povos, não somos o centro do mundo. Já Camões se tinha apercebido de que éramos uma espécie de milagre… Esse milagre é uma coisa que nos enlouqueceu. Mas todos precisamos de loucura para suportar a vida (…)».
            Foi com esse “grão de loucura” – melhor diria, de reflectida ousadia – que a Estoril-Sol cresceu e se afirmou – com o desígnio na Alma, com a Cultura no Espírito, com a Arte no Coração!».
 
Uma cerimónia muito digna
            E a dignidade da cerimónia prosseguiu com o eloquente discurso do presidente do júri, Vasco Graça Moura, que salientou as oportunas mensagens trazidas pelos romances ora premiados, que bem se distinguem do que habitualmente surge por aí nos escaparates, servido por bem orquestrada publicidade.
            No que concerne a Domínio Público, o romance de Paulo Castilho, um diplomata e escritor já consagrado, reiterou a ideia de que se trata de «uma obra que propõe um olhar tão lúcido quanto irónico sobre as relações humanas na sociedade portuguesa actual»; «a caracterização das personagens, nos seus encontros e desencontros, nas suas ilusões e expectativas, nas suas boas intenções ou até no seu cinismo, é feita em registos bem diferenciados, com agilidade e humor», revelando «uma surpreendente mestria no entrelaçar dos fios da narrativa com a técnica do monólogo interior, ao mesmo tempo que utiliza de modo elegante e flexível a língua portuguesa».
            Quanto a A Vida Inútil de José Homem, da psicóloga clínica Marlene Correia Ferraz, natural de Viana do Castelo, salientou a sua «apreciável desenvoltura narrativa» e, também, «uma relação criativa com a língua portuguesa”, aspecto que nos apraz registar, pois vemos no dia-a-dia a língua portuguesa ser cada vez mais enxovalhada, mesmo ao nível dito literário. Saliente-se, ainda, que, evidenciando «situações dramáticas da memória histórica portuguesa africana, num enquadramento interessante e, em certa medida, original» – para usarmos das palavras do júri, repetidas por Graça Moura – A Vida Inútil de José Homem se prende com um dos aspectos que, hoje em dia, mais nos tem obrigado a reflectir: as guerras coloniais e as suas consequências, que ainda se não dissiparam de vez – nem tão cedo virão a dissipar-se!
            Cada um dos premiados falou depois. Paulo Castilho não se eximiu de lançar uma farpa à nova literatura portuguesa, que enxameia as livrarias, onde dificilmente, à primeira vista, se encontram as obras clássicas. E concluiu: «Como escritor, agradeço; como cidadão, estou apreensivo». Marlene Ferraz, por seu turno, que considerara o seu livro «um sopro nos meus dedos, mas um arrepio no coração», fez anteceder os agradecimentos formais de um belo trecho, a sintetizar o que pretendera transmitir através da escrita.
            A concluir, Assunção Esteves congratulou-se com os prémios atribuídos, saudando os autores e aplaudindo a iniciativa da Estoril-Sol.
            Estiveram também presentes Nuno Crato (ministro da Educação e Ciência), Mota Amaral e o presidente da Câmara Municipal de Cascais, entre outras individualidades convidadas.
            O júri de ambos os prémios foi constituído por Guilherme d’Oliveira Martins (que esteve presente na sessão), em representação do Centro Nacional de Cultura; José Manuel Mendes, da Associação Portuguesa de Escritores; Maria Carlos Gil Loureiro, da Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas; Manuel Frias Martins, da Associação Portuguesa dos Críticos Literários; e, ainda, Maria Alzira Seixo e Liberto Cruz, convidados a título individual; e Nuno Lima de Carvalho e Dinis de Abreu, em representação da Estoril-Sol.
            Seguiu-se um jantar em honra dos premiados no Restaurante «Estoril Mandarim».

Publicado em Cyberjornal, 07-07-2013:
http://www.cyberjornal.net/index.php?option=com_content&task=view&id=18584&Itemid=67

Post-scriptum: Foto gentilmente enviada pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol: Assunção Esteves com os premiados. As fotos da entrega dos prémios são de Luís Bento.
 

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