sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Aplausos para um lutador

             Sempre me habituei a ver no Prof. Jorge Paiva, investigador do Instituto Botânico da Universidade de Coimbra, um lutador nato.
            Ouvi-o em inúmeras conferências; eu próprio lhe solicitei que proferisse algumas para as mais diversas plateias, porque o seu entusiasmo e o seu profundo saber cativam e ajudam-nos a sermos melhores.
            E porquê?
            Porque o Prof. Jorge Paiva escolheu para seu lema uma vida sadia em íntima comunhão com a Natureza! E, em relação a esta, tem um objectivo a atingir: mostrar a toda a gente, mormente aos que estão em órgãos de decisão, que a biodiversidade é o caminho para uma vida mais saudável neste planeta, onde tantos são os atentados mortais que contra ele diariamente se cometem, com a anuência das mais altas entidades.
            E a sua missão cumpre-se, de modo especial, na quadra natalícia, mediante o envio de centenas de postais de boas-festas (bilingues) a amigos que seleccionou, entre os quais tenho a honra de figurar. Sempre com um tema diferente e sempre deveras acutilante e oportuno.
            Para este ano optou pelo tema «Biodiversidade e endemismos», para se enquadrar na «Década da Biodiversidade» proposta, nos finais de 2011, pelo Secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. As imagens: um pássaro («Anabathmis newtonii», de seu nome científico) e uma planta, a «Impatiens buccinalis», ambos endemismos – ou seja, exclusivos – da Ilha de S. Tomé. E explica, para exemplificar o significado da biodiversidade, a interdependência de uns seres em relação aos outros (e nós, homens, somos dos mais dependentes!...):
            «A ave ‘Anabathmis newtonii’ (selelê) […] depende do néctar das flores que poliniza. Se colhesse o néctar apenas da ‘Impatiens buccinalis’ (camarões)» que é, como ela, «endémica da floresta tropical autóctone (obô) da Ilha de S. Tomé», seria enorme o seu risco de sobrevivência, porque bastava que a ‘Impatiens buccinalis’ desaparecesse para que ela viesse a desaparecer também.
            Elucidativo exemplo a reter, mormente se pensarmos que temos no nosso corpo «milhões de seres vivos microscópicos», sem os quais não conseguiríamos digerir os alimentos e defender-nos de muitas doenças…
            Afinal, «somos todos espécies endémicas de uma ilha universal, a Terra. Assim, se muitas das espécies de que nós dependemos desaparecessem, nós também nos extinguiríamos», conclui o professor.

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 630, 01-01-2014, p. 12.

1 comentário:

  1. Antonio Alberto escreveu:
    "Professor, estou inteiramente de acordo no que diz o Professor Jorge Paiva. Concordará comigo se eu afirmar, coisa que não gosto nada de o fazer, que o desaparecimento da espécie humana seria o maior contributo para a sobrevivência das outras espécies?! Um abraço e um bem-haja."

    Eu é que agradeço o comentário! Na verdade, enquanto continuar a comportar-se como o está a ser, o Homem não apenas destruirá rapidamente a biodiversidade, como depressa acabará com a sua capacidade de sobrevivência!

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