segunda-feira, 13 de abril de 2015

Ena, pá! Tanta foto!

            Só uma daquelas sessões propensas a desfiles e apresentação de farpelas novas por parte de muitas estrelas da sociedade e muitos fotógrafos a disparar para as revistas da society (desculpem, aqui tem de ser, eu não poderia usar o corriqueiro ‘sociedade’, acham?!...), só aí é que se poderão contar mais fotografias do que na Ceia Medieval do passado dia 8, no Grupo Recreativo e Dramático 1º de Maio, de Tires! Tudo quanto era máquina e telemóvel, do mais simples ao mais sofisticado (que dão por aqueles nomes estranhos…), tudo fotografava, minha gente!
            E porquê?
            Porque a Organização achou – e muito bem! – que ceia medieval, para o ser, tinha de o ser a preceito e, vai daí, todos os convivas haviam de enfarpelar-se! Ele foi, pois, uma mão-cheia de pajens, de fidalgos, de princesas, de cavaleiros, de causídicos, de cirurgiões, de frades… Espera lá! Não vi ninguém vestido de bobo! Pois não havia bobo enfarpelado, não, senhor! Mas todos quisemos pousar para as sedentas objectivas, que é uma vez na vida que a gente regressa assim aos tempos dos nossos reis!...
            Uma sala cheia! Uma animação! E o arauto cedo nos esclareceu estarmos ali, porque el-rei D. Fernando, de mui saudosa memória, por carta de 8 de Abril de 1470 (ponho já a era cristã, para não lançar a confusão!), ou seja, há 645 anos, cedeu Cascais a Gomes Lourenço do Avelar e teve o cuidado de bem esclarecer na carta quais eram os limites do que lhe dava. Trata-se, pois, do 1º documento oficial em que se declarou, o preto no branco, que o território hoje de S. Domingos de Rana ficava integrado no concelho de Cascais. E este passará a ser o dia oficial da freguesia!
            Aproveitou-se o ensejo, quase em jeito de entremez (salvo seja!), para a senhora presidente da Junta de Freguesia, «alcaide-mor deste dominicano castelo» (digo eu!), dizer de sua justiça e mostrar quão empenhada está em fazer o que el-rei há tanto tempo mandara: pelejar sem descanso pelo bem-estar das suas gentes! Ao que outro alcaide-mor, o do concelho, também ele vestido a rigor, garantiu que assim se fazia e se faria, pelo que dele dependesse, até porque desse termo era nado e criado!
            E como – lá dizia a carta régia – é «apanágio da nobreza e alteza dos reis e dos príncipes remunerar e galardoar aqueles que bem servem», ali mesmo foram galardoadas pessoas e entidades que, nos mais diversos domínios da actividade (inclusive do «empreendedorismo», vocábulo nada medieval que muito entaramelou – e tem razão! – a língua do arauto!...), se haviam distinguido a bem do Povo!
            Comeu-se em loiça de barro da Taberna do Rei, como convinha; saborearam-se uns nacos de pernil, uma açorda de javali, panito acabado de fazer e escorropicharam-se pichéis de bem apaladado tinto.
            Numa peça de teatro, uns senhores de mau agoiro vieram recordar-nos que rico ou pobre, fidalgo ou monge, homem ou mulher, parvo ou assisado, a todos, um dia, há uns esbirros que, a mando de tenebrosa senhora, os vêm buscar – e aí todos se igualam! Alembrou-me o Gil Vicente, ainda que este medieval não fosse, mas andava lá perto nos seus autos! Houve danças e a Senhora anfitriã fez questão em vir cumprimentar os comensais e…
            … para o fim-de-semana, a festa promete continuar na Feira Medieval!

                               José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 09-04-2015:


 

 

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