sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cerveja, pretexto para história e para museu

            A inauguração, a 27 de Junho, das novas instalações, em Coimbra, de Praxis – Fábrica e Museu da Cerveja, constituiu excelente pretexto para apresentar substancial opúsculo de 8 páginas bem ilustradas, que aliciam não apenas a apreciar refrescante copo mas também a deixar-se seduzir por uma história eventualmente não muito conhecida.
            É que, para além de se explicar o processo de fabrico, aí traça em pormenor o Doutor José Maria Amado Mendes, com o saber e maestria que lhe reconhecemos, breve história da cerveja, desde as mais remotas eras até aos nossos dias. Em geral, no mundo; e, em particular, na cidade de Coimbra, de que muitos recordarão ainda a Topázio ou mesmo a Onyx.
            Trata-se, na verdade, de uma história singular (cuja cronologia também aqui se desvenda), uma vez que, pelos vistos, é bebida que – a par do vinho (este preferido, de facto, pelos Romanos) – percorre todas as épocas da história universal, nos mais diversos quadrantes geográficos. Aí se explica, por exemplo, que foram os monges da Idade Média que introduziram o lúpulo como matéria-prima, porque, aromático como é, «fornece à cerveja um amargo e aroma característicos», e há documento datado de 822 que o atesta. No nosso país, só no século XIX é que a produção cervejeira «atinge a escala empresarial», havendo referência a mais de uma dezena de empresas, em Lisboa, Porto, Coimbra e Ponte da Barca.
            No que se refere à produção cervejeira em Coimbra, determinam-se cinco períodos na sua evolução, desde meados do século XIX à actualidade, em que, sublinha-se, a produção passou a assumir, de novo, típico carácter artesanal. É nesse âmbito que se insere a Praxis, mercê da experiência adquirida pelos seus técnicos com reconhecidos mestres cervejeiros em Berlim e na América do Norte.
            O Doutor Amado Mendes iniciou, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, há mais de duas décadas já, a leccionação da cadeira de Arqueologia Industrial e tem, por isso mesmo, acompanhado a história e proposto a possível musealização de antigos edifícios fabris abandonados. Por conseguinte, chamado a colaborar neste projecto, não deixou de sugerir, também aqui, a organização de um espaço museológico, para sobejamente se patentearem, nesta cervejaria artesanal, as «preocupações de valorizar o património industrial e gastronómico da cidade».

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 10-07-2015:
 
 
 

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