quinta-feira, 2 de julho de 2015

Do teatro há cem anos… em Évora!

            Está patente no bem restaurado Palácio de D. Manuel, em Évora, a exposição «O Paço Real e a cidade», evocativa do que foi, ao longo dos séculos, a relação deste magnífico edifício pleno de história com a vida da cidade.
            Nele funcionou, por exemplo, a partir da 2ª metade do século XIX, o Theatro Eborense e, por isso, na exposição se mostram cartazes dessa altura. Respigo duas informações que reputo de interesse, porque correspondem no fundo, a iniciativas que noutros lugares na mesma época se levavam a efeito.
            Assim, anunciam-se bailes de máscaras para os dias 12, 16, 19, 20 e 21 de Fevereiro de 1882, a «preços e condições do costume». Achei curiosa esta anotação.
            Recordo que, ainda nas décadas de 50 e 60, se faziam «bailes de benefício», cujos proventos angariados eram entregues a quem, por inesperada desgraça, necessitava de ajuda, numa altura em que não havia Segurança Social e também já não estavam activas as confrarias medievais que amealhavam para auxílio dos seu membros necessitados. Chamou-me, por isso, a atenção, o anúncio de uma «récita extraordinária e de caridade», a realizar a 8 de Dezembro de 1913. Valerá a pena atentar no teor do anúncio, inclusive para se ver qual o sentir do Povo nessa época.
            A organização partiu de «um grupo de amigos e admiradores do distinto amador dramático o operário marceneiro Francisco Manuel de Andrade que há meses vem sofrendo duma doença na vista que o impossibilita de trabalhar, lançando-o em precárias circunstâncias». Por conseguinte, a récita será «em benefício do desditoso operário cego, e de sua desolada esposa». Repare-se na imensa carga afectiva que se desprende dos três adjectivos usados: desditoso, cego, desolada…
            Anuncia-se depois que «obsequiosamente» na récita «tomam parte as distintas amadoras» cujos nomes se indicam a seguir. E explicita-se que os preços a praticar serão os seguintes:
            Balcão: 31 centavos (310 réis)
            Plateia: 21 centavos (210 réis).
            Não deixa de ser, também esta, uma nota interessante, porque – situando-se num período de transição do valor da moeda (do real para o escudo) – houve o cuidado de assinalar a respectiva correspondência. Aliás, muitos de nós se lembrarão ainda de ter na mão uma nota de vinte mil réis, perdão, de vinte escudos; mas, na linguagem quotidiana, vinte mil réis ouvia-se com frequência…

                                                                         José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 02-07-2015:

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