terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Os palcos de manifestações culturais

             Os museus cascalenses e o Centro Cultural geridos pela Fundação D. Luís I constituem habitual palco de mui variadas manifestações culturais, desde reuniões científicas a exposições de arte e a concertos. Rara será a semana em que o Centro Cultural não apresente novidades e a Casa Verdades de Faria, vocacionada para a divulgação do nosso património musical tradicional não lhe fica atrás, honrando amiúde a memória de Fernando Lopes-Graça, cujo espólio, assim como o de Michel Giacometti, em boa hora lhe foi confiado.
            Também as salas das juntas de freguesia rivalizam pela apresentação de exposições, habitualmente não divulgadas, privilegiando artistas seus fregueses, o que é de muito louvar.
            Mantém-se, porém, o Casino Estoril como o grande espaço em que, a par do jogo, à Cultura vem sendo dado lugar de relevo.
            Não falo já do espectáculo da passagem de ano, abrilhantado pelos irmãos Feist e por Susana Félix, a que, a dado momento, vieram juntar-se José Cid e Paulo de Carvalho. Música para começar na dança o novo ano, ainda que tenha sido mínimo o espaço para quem desejasse desentorpecer as pernas.
            Ao jantar, degustaram-se acepipes a que os dizeres da ementa aliciavam: «tornedó de novilho perfumado com foie gras» e «molho de morilles com cepes secos», na carne, «esfera de chocolate negro com recheio de pistácio e morango», na sobremesa. «Cepes» é um galicismo que designa os boletos, uma espécie de cogumelos; morilles são cogumelos também, do género morchella, silvestres, raros e muito apreciados por renomados chefes de cozinha. Dir-se-ia, pela amostra, que estávamos a voltar aos finais do século XIX e princípios do XX, em que a culinária francesa dava cartas, as ementas eram «menus» e, nos hotéis, havia o «scenseur… Também nesse domínio a França perdeu o pé!
            Voltando ao Salão Preto e Prata, importa referir que, mais uma vez, foi cenário, na tarde do domingo, 7, do Concerto de Ano Novo, pela Orquestra Sinfónica de Cascais, dirigida pelo maestro Nikolay Lalov, o grande dinamizador das artes musicais no concelho.
O momento inicial: a primeira violino dá o tom; cada naipe vai respondendo
e, pouco depois, durante segundos, é a algaraviada de sons...
            Desta feita, o mote foi o Amor, a Paixão; e o maestro procurou explicar nesse âmbito a escolha do reportório que fizera, consoante os amorosos enleios, desde a primeira abordagem – e aí ouvimos o «Convite para a Dança», de Carl Maria von Weber (1819), na orquestração de Hector Berlioz (1841). A soprano portuguesa Rita Marques (natural das Caldas da Rainha) deliciou-nos a cantar «Eu quero viver», de Charles Gounod, de que neste ano se celebra o bicentenário do nascimento. E os enleios prosseguiram, na brincadeira da polca «Tik-Tak», de Johann Strauss (filho), que também divertiram os músicos; até que o casamento se consumou e ouviu-se, por conseguinte, a Marcha Nupcial, do «Sonho de uma Noite de Verão», de Félix Mendelsohn.
            Na 2ª parte, já na vida a dois, embora o maestro tenha falado de que o autor de um livro lido na sua juventude escrevera «E depois casei e a minha biografia acabou!», o certo é que fomos imaginando amorosas peripécias: no ‘intermezzo’ das 1001 noites (novamente J. Strauss); na valsa sentimental de Tchaikosky; na jovial canção de Adele (Adele’s Laughing Song), de J. Strauss, com que Rita Marques superiormente nos brindou e a orquestra se esmerou deveras. E terminou-se pelo imprescindível passeio romântico pelo Danúbio Azul… E os aplausos, de pé, do público que encheu o salão ‘obrigaram’ o maestro a três números mais.
            Houvera, porém, surpreendente aperitivo no átrio do Casino: a bonita exposição das fotografias (de 120 fotógrafos) seleccionadas no concurso Bussaco das Quatro Estações. Um elegante convite a que, embevecidos pelas belezas que essas objectivas tão oportunamente souberam captar – do património paisagístico, da fauna e da flora, do património arquitectónico e histórico –, os passantes parassem uns minutos e, quiçá, se deixassem maravilhar por uma serra plena de sedução.
            E não se ficou por aqui o palco cultural do Casino, dado que, na quarta-feira, 10, no Salão Preto e Prata se apresentou o musical Simone de Oliveira, em que intervieram a própria Simone, o FF, José Raposo, Maria João Abreu, Marta Andrino, Pedro Pernas, Ruben Madureira, Salvador Nery, Sissi Martins e Soraia Tavares. O tributo a uma Artista!

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais], nº 216, 17-01-2018, p. 6.

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