segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Animais de companhia

            Enterneceu-me, como certamente a muitos dos nossos leitores, a circunstanciada crónica que, ao seu jeito habitual, Vítor Barros dedicou, na passada edição (pág. 4), ao seu cão Pantufa, que «se foi embora».
            Conta miudamente o que foi a sua longa vida, mormente a dos últimos tempos, em que «ficou coxo, quase cego, quase surdo». Ternura é o halo que da sua prosa mui delicadamente se evola. Ternura sua pelo Pantufa, ternura do Pantufa para com toda a família, sobretudo para a mãe do Vítor após a morte do marido.
            E ia eu pôr, como título desta minha crónica, «Animais, nossos amigos» ou, como no título do livro de Alan Devoe, «Our animals neighbors» (McGraw-Hill, Nova Iorque, 1953), que requisitei, quando estudante, na Biblioteca Americana, «Os nossos vizinhos, os animais». Na verdade, só quem partilhar a vida com um cão ou outro animal de estimação compreende bem o que Vítor Barros descreveu.
            Passeávamos, no passado dia 18 de Dezembro, nas Ramblas, em Barcelona, quando a Ana me chamou a atenção para um sem-abrigo, que dormia abraçado a um cão como o nosso labrador, singela manta a cobri-los. Também essa cena nos enterneceu. E ficámos a pensar nas vezes em que o sem-abrigo até era capaz de passar fome para que o seu amigo a não passasse.
            Foram dados alguns passos já, a nível político, para ajudar quem tem no seu animal a presença diária, a única presença diária, nomeadamente na velhice. Mais importaria fazer, atendendo ao insubstituível papel que o cão ou o gato desempenham no lar, inclusive do ponto de vista psicológico, como elemento apaziguador de emoções. Já não falo nas CERCIs, onde, cada vez mais, a presença de um cão devidamente educado exerce ímpar função pedagógica. Os políticos – também eles têm cães e/ou gatos, aposto! – deveriam pensar nisso.
            Não apresento condolências a Vítor Barros, porque o Pantufa cumpriu a sua missão. Felicito-o, mais uma vez, por – com um exemplo vivo e sentido – ter chamado a atenção para uma indesmentível realidade.
                                                           José d’Encarnação

 
Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 254, 20-01-2018, p. 17.
 

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