segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Duas vozes em dois contextos


«Sintam-se à vontade!»
 
            Por várias vezes, Tiago Nacarato exclamou:
            - Sintam-se à vontade!...
            … para dançar, para cantar, para nos acompanharem com palmas!…
            A intenção, concretizada, foi a de estabelecer um elo com o público que acorreu, na noite do dia 30 de Outubro ao Salão Preto e Prata do Casino Estoril.
            O músico, de 27 anos, que vive no Porto, tem pais brasileiros e, por isso, o seu reportório integra composições suas e temas brasileiros também, até porque a sua banda, a Bamba Social, conta com elementos luso-brasileiros. Desta feita, o programa teve como base o primeiro disco de Tiago Nacarato, «Lugar Comum».
            O espectáculo valeu não apenas pela mocidade do artista e seu poder de comunicação, mas também pelos arranjos dos trechos que interpretou, onde igualmente brilharam os seus músicos – nos teclados, na percussão, no sopro (excelentes apontamentos no saxofone), nas cordas – a demonstrar elevado domínio de variados instrumentos de que souberam tirar o máximo rendimento, a compor um programa que agradou.
            Uma nota para futuros espectáculos, se tal me é permitido observar: os músicos apresentam – e nós aplaudimos – cada um dos seus acompanhantes. E ficamos numa encruzilhada: ou batemos palmas ou apressamo-nos a tomar apontamento do nome, nem sempre suficientemente perceptível. Gostaria, por exemplo, de nomear quem, desta vez, acompanhou Nacarato. Parece, porém, ser sina eles – que também são bons e muito contribuem para o êxito de um espectáculo – ficarem no anonimato. E não o merecem!

[Fotos gentilmente cedidas pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol]
Uma soprano portuguesa

     Foi também uma voz que nos encantou no Concerto de Outono dado, como habitualmente no Auditório Senhora da Boa Nova, na noite de sábado, 19 de Outubro, pela Orquestra Sinfónica de Cascais, dirigida, desta vez, pelo conceituado maestro ucraniano Mark Kadin, actual director musical da Orquestra Sinfónica da Rádio Nacional Búlgara. E a voz foi a da soprano portuguesa Cristiana Oliveira.
       Com enorme à-vontade e um domínio perfeito da sua voz, Cristiana optou, a determinado momento, por sair do palco e passear-se pela plateia (o auditório estava esgotado!).
       Tudo parecia natural: a sua interpretação e os sons de todos e de cada um dos naipes de instrumentos que nos brindaram com excertos de óperas (de Verdi, Puccini, Tchaikovski, J. Strauss Jr…), pois que de uma «gala de ópera» se tratava. Aqueles finais em que os arcos dos violinistas paravam instantaneamente no ar, qual floresta de lianas, eram sempre acompanhados pelo sorriso deliciado dos executantes e bem sublinhados pelos nunca regateados aplausos da assistência.
            Congratulamo-nos.
           Não apenas – e mais uma vez, nunca é de mais! – por Cascais ter uma orquestra desta valia mas também pela brilhante carreira internacional de Cristiana Oliveira, que, aos 32 anos (a 15 de Julho de 2012), venceu o 14º Concurso Internacional de Interpretação do Estoril – Prémio El Corte Inglês.
            Honra ao mérito!
                                                                     José d’Encarnação

1 comentário:

  1. Muito obrigada por este texto onde se dá a conhecer Tiago Nacarato, de quem nunca ouvira falar, e pelo destaque à soprano Cristina OLiveira, já tão conhecida do grande público. Merecem ser conhecidos, faladosm, aplaudidos, e tu também, sempre atento ao que de valor se vai fazendo.

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