sábado, 19 de setembro de 2020

Fiquei marfado!

                Não, não foi com o que li no 2º tomo da «Geografia histórica de todos os estados soberanos de Europa...», saído em 1736, da oficina de Joseph Antonio da Sylva, situada na Lisboa Occidental e da autoria de Luís Caetano de Lima.  

            Diz-se lá – e muito bem! – na p. 320, que, nessa 1ª metade do século XVIII, tinha Faro 8 paróquias, a saber: Conceição, Estoy, S. Braz de Alportel, S. João da Venda, Santa Barbara de Nexe, Olhão, Pexão e S. Sebastião de Quelfez.

            Sobre S. Brás de Alportel, informa: «Está a 2 léguas de Faro e 1 de Estoy e tem 704 fogos, com 2552 almas» (p. 320-321).

            Ficamos, assim, com uma ideia dos lugares de maior relevo na altura, pertencendo hoje, alguns deles, a concelhos diferentes, que de Faro se separaram: Olhão e S. Brás.

            Por conseguinte, nada a opor.

            O que me marfou foi um mapa consultável na Biblioteca Nacional Digital que amiga simpática, sabendo-me natural desse reino, fez questão de me remeter. Desencantara-o Andreia Fidalgo, no passado 19 de Agosto: «Um mapa do Reyno do Algarve nos finais do século XVIII». Busque-se «Mappa Geografico do Reyno do Algarve» ou http://purl.pt/29070/2/ e facilmente se acederá a esse mapa, bem minucioso, passível de ser ampliado, datado de 1791 e elaborado pelo Eng.º Baltazar de Azevedo Coutinho.

            E que se lê por lá que me pôs os cabelos em pé? Então não é que marca o «Caminho de Faro para Lisboa» a passar por S. Bárbara e por Loulé em direcção ao Ameixial, este já no limite com o «Campo de Ourique»? Caminho de Faro para S. Brás não há; caminho de S. Brás para norte não há também! A povoação está na planura, guardada pelo Cerro de Guelhim e vigiada pelo Cerro de S. Miguel.

            Pode lá ser? Agora que embandeiramos em arco com a E. N. 2, que estamos encantados com a Calçadinha, vem lá um tal de Baltazar pôr tábua rasa nisso tudo e esquecer-se que a palavra «Alportel» radica em «porta» e que era por aí, por essa «porta», que o povo se aventurava para norte, em demanda da capital!...

            Temos mesmo que ver bem se o Sr. Engenheiro se não desviou de mais!...

                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], 20-09-2020, p. 13.

 

3 comentários:

  1. rve mas ao menos podia ter estudado melhor este prcurso poie que a Geografia não se altera e, portanto, ainda agora o percurso mais curto de Faro pª Lisboa é passando por S. B Esserás e por Alportel! Esse erro crasso Marafa qq algarvio

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  2. Texto muito apetitoso...Não que eu esteja marafada, porque não sou algarvia, era o meu avô paterno (de Bensafrim, Lagos). Mas bem gostava de saber o que pensaria ele do deslize do Sr. Engº.B.A.C...Gostei muito de ler. E aprendi sobre a existência de mapas e publicações...

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  3. Vitória Pinto
    19 de Setembro às 20:19
    Adorei o artigo do jornal Notícias de S. Brás. Como é possível ser tão ignorante o Sr. que fez aquele mapa?
    ..............
    Vítor Barros
    19 de Setembro às 22:36
    Muito bem! E lá diz o ditado que quem não se sente não é filho de boa gente... Abraço.

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