quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A informação camarária

          Como docente de Comunicação Social no Curso de Especialização em Assuntos Culturais no Âmbito das Autarquias – agora, Mestrado em Política Cultural Autárquica, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra – tive oportunidade de conversar com os estudantes acerca do que poderia ser uma correcta política de informação aos munícipes por parte do Executivo.
            Hoje, com a criação das páginas informáticas, a ideia generalizada é que isso basta para manter o contacto entre governantes e governados. Creio que não.
            Num concelho do Algarve, o presidente optou por responder, no jornal mensal local, às questões levantadas, sempre as mais candentes no momento. Não sei, confesso, se se trata de publicidade paga – o que, diga-se, até nem seria despropositado, na medida em que o jornal local, sabemo-lo bem, exerce uma função ímpar e carece de verbas para sobreviver; mesmo sendo publicidade, acho a ideia excelente.
            Noutro concelho, do Alentejo, há jornal camarário mensal, que inclui separata a dar conta das resoluções tomadas nas mais recentes reuniões camarárias e da Assembleia Municipal. Tem o jornal larga difusão, gratuitamente distribuído porta a porta.
            Num concelho, este da Estremadura, além de se ter mantido a agenda cultural em papel (atitude com que deveras me regozijo), há o boletim camarário mensal, onde também constam, em separata, as decisões da Câmara e da Assembleia.
           Nas aulas, eu preconizei que o formando – caso viesse a integrar o Gabinete de Comunicação camarário – incitasse o seu presidente a fazer, pelo menos, uma conferência de imprensa semestral, em que também auscultaria a população – através dos jornalistas – sobre o que era mais premente e de que ele poderia não estar informado. Dir-se-á que para isso são as sessões camarárias abertas, com tempo para intervenções do povo; mas, confessemos, não é a mesma coisa.
            Temos, de facto, os mais variados perfis de presidente: este convoca os jornalistas, sempre que há assuntos importantes; aquele diz «se me tivesse perguntado, não teria escrito assim» (mas a gente pergunta, pergunta, e as respostas tardam, tardam!...); aqueloutro, quando o jornal tem opinião diversa da sua, corre logo, ofendido, a enviar carta ameaçadora. Enfim…

                                                                                   José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 815, 01-02-2022, p. 12.

4 comentários:

  1. Um jornal local que servisse de veiculo informativo da Câmara e das Juntas de Freguesia para os municipes e fregueses e vice versa. Que estes pudessem expor os seus problemas e aspirações respeitantes ao seu concelho. Mas quem suportaria esse Jornal e o dirigiria de forma isenta?
    Uma agenda municipal ,que faz falta, só funciona num sentido....complicado! Mas a democracia ficaria mais rica..se todos tivessem mais oportunidades de serem ouvidos..

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  2. "Hoje, com a criação das páginas informáticas, a ideia generalizada é que isso basta para manter o contacto entre governantes e governados. Creio que não" O presidente respondeu, quando lhe manifestei o nosso desagrado, são só 10%.Eu disse e a maioria velhos. Quem soube e quem foi? à Paula Rêgo ao seminário "como construir um município onde todos possam envelhecer bem. "tava na Net"
    Maria Helena
    Velha mas não trôpega...

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  3. Gostei muito do texto por tocar num ponto essencial: o da comunicação entre autarquias e munícipes. A agenda em papel faz falta aqui no concelho e nos outros, presumo. O argumento da redução de custos não pode ser invocado a propósito de tudo e nada. Um jornal impresso em papel, aproxima as pessoas, pode ser folheado várias vezes, permanece diante dos nossos olhos. Dir-me-ão que também o documento online, mas não é a mesma coisa, como diz o autor do texto. A permanência da imprensa escrita e da edição de livros nos moldes tradicionais, deve querer dizer alguma coisa...

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  4. Antão Vinagre
    7 de fevereiro de 2022 15:34
    Gostei do artigo. De forma sintética, aborda uma questão central da gestão autárquica: a informação aos munícipes. Na minha opinião, para além da escolha do meio/forma de comunicação a usar, a grande dificuldade está na capacidade técnica dos gabinetes de comunicação das Câmaras Municipais, particularmente nas autarquias de pequena dimensão.

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