Aos
18 anos, todos estamos apaixonados e todos sonhamos com uma ideal pessoa amada,
a cujos pés até nos prostraríamos em preito de vassalagem, tamanha a beleza que
dela havia de irradiar. Estrela fulgurante, pôr-do-sol dolente, pétala perfumada,
deusa de impecáveis contornos e terno olhar
E, vai daí, se algum jeito há para pôr em palavras
escritas tais líricos devaneios, escrevemos, escrevemos, metemos na gaveta,
relemos e, um dia, é capaz de sair um livro de poemas. Sorte teremos se houver quem
no-lo queira publicar – se até aos mais entrados nesse mundo dos amores e das
letras amiúde (ou quase sempre) rotundamente à poesia as portas teimam em se
fechar.
Tal não
aconteceu com o são-brasense José Dias Sancho. Mal entrara nos 18 aninhos e já
vira publicado, em 1916, um dos seus primeiros livros, Canções de Amor,
donde ressumbra, na verdade, esse juvenil e sonhador enleio:
«Sorri p’ra mim!... Não vês como eu te fito / Esp’rando
a graça d’um teu doce olhar? / Minh’alma, n’um nirvana, de joelhos / Aqui está,
junto a ti, p’ra te adorar».
Terá sido
difícil obter sorriso tão desejado; mas a estreita colaboração da Universidade
do Algarve com a Câmara Municipal de S. Brás de Alportel fez que, mais de cem
anos passados, desses românticos suspiros ora pudéssemos testemunhar.
Canções de Amor e Outros Poemas é, pois, o IV volume da série que está a ser publicada pela Opera Omnia, de Braga, com supervisão da Doutora Sílvia Quinteiro, em colaboração com Maria José Marques e Ana Cláudia Silva. Não se publicaram aqui apenas os versos do livro Canções de Amor; as coordenadoras colheram textos em publicações periódicas regionais e nacionais e no-los apresentaram por ordem cronológica, de 1913 a 1930. Uma vez que José Dias Sancho faleceu a 10 de Janeiro de 1929 (ainda não completara 31 anos), os escritos datados de 1930 foram publicados postumamente. E assim com ele nos é dado agora conviver.
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 316, 20-03-2023, p. 13.
É outro acto de amor, abraçar a poesia lírica de um jovem a quem as pessoas cultas da sua terra, suas contemporâneas primeiro, e as que nela vivem e trabalham actualmente, reconheceram valor literário.
ResponderEliminarCom diz José d´Encarnação, é raro esse reconhecimento e empenho.
Dizem que a poesia não se vende, e esse argumento parece querer justificar o silêncio à volta de tantas centenas de autores que ainda escrevem para a gaveta, com a tal esperança de ver um dia uma porta aberta.
Assim, é de saudar a conjunção de esforços do Município de S. Brás de Alportel e da Universidade do Algarve, na pessoa das coordenadoras desta publicação que demonstra veneração e respeito por José ias Sancho.
Tens razão e esse aspecto eu quis frisar: a necessidade de haver quem se disponibilize a ver nos trabalhos poéticos algo que vale a pena publicar. E, por outro lado, a necessidade de, logo a partir da escola, se incitarem as crianças a gostarem de poesia e a serem leitores de livros de poesia.
ResponderEliminarBem hajas pelo apoio!