Do
programa constava o nome de 710 (!) participantes; na 1ª sessão, 27 quadros, 29
nas outras duas. Ballet, dança contemporânea, hip hop, dança oriental, dança criativa,
kizomba, dança espanhola, salsa cubana, flamenco, zumba – foram as modalidades
apresentadas, nos mais diversos níveis etários. Citam-se na ficha técnica 20
professores; Joana Rodrigues foi a directora de cena; Sara Correia, Carina
Leiria e Carla Raimundo geriram os bastidores; Luísa Santos, Maria João Madeira
e Otília Santos, as figurinistas; Pedro Rua, o director técnico; Rui Braga, o
técnico de luz. O espectáculo teve o apoio da Câmara Municipal de Sintra e da União
de Freguesias de Santa Maria e S. Miguel. Todas as sessões esgotaram.
Estranhar-se-á,
porventura, a preocupação de referir estes nomes todos, podendo muito bem eu ter-me
cingido a dizer que por detrás de tudo isto está o génio e o inigualável
dinamismo de Lucília Bahleixo. Seria errado. Primeiro, porque a própria Lucília
quis deixar bem claro no final (eu assisti à 3ª sessão) que um espectáculo
assim não podia ser erguido sem a colaboração de toda uma equipa; depois,
porque, na verdade, imaginar pôr em cena, numa ininterrupta sucessão de quadros,
tanta gente, em que todos os pormenores (a luz, o cenário, a marcação…) têm de
ser calculados quase ao milímetro e ao segundo implica dedicação extrema de
muitos.
Temos
acompanhado, com todo o gosto, os espectáculos das Academias do Ai!aDança e garanto,
sem medo de errar, que, neste dealbar de 2016, o espectáculo nos encheu as
medidas, não apenas por se ter verificado mui sensível subida de nível das actuações
de conjunto e individuais (há pequenitas e pequenitos que nos deslumbram de tal
modo que – os outros no-lo perdoem!... – nós ficamos grudados neles!), mas
também pela variedade dos temas e das bem originais coreografias. Sentíamos,
por vezes, que a dança espanhola – não fosse ela a preferida de Lucília
Bahleixo!... – era repetitiva; ora, este ano, ainda que o flamenco e as
sevilhanas não tivessem faltado, deu-se-lhes a volta, mudaram-se os passos e
tudo resultou muito mais fluido e encantador.
Há
quatro aspectos que não posso deixar de realçar.
O
deslumbrante ‘realismo’ – tão próximo de nós – das projecções multimédia.
Recordar-se-á, sem dúvida, logo do início, aquelas vagas que parecem rebentar à
nossa frente e como a dança nelas perfeitamente se enquadra. E depois, já quase
no final, o comovente hino à família! Numa época em que os velhos surgem,
amiúde, como um problema e não há ternura que se lhes chegue no doloroso leito
a que estão presos, as imagens que nos mostraram, mesmo ali ao alcance da mão
(pareciam!...), condimentadas por uma coreografia adequada e fundo musical a
condizer, ficarão, sem dúvida, na retina de quantos, emotivamente, as puderam
contemplar.
O
segundo aspecto, que já é recorrente mas que sempre importa assinalar: a dança constitui
também – pode e deve constituir! – um meio de integração. Não há idade para se
frequentar aulas de dança! Ali estão as mães e os filhos. Ali está a sexagenária
e o menino de cinco anos. A menina que não tem todas as capacidades que seria
suposto ter, mas que pode ser mimada pelos demais. «Natural é dançar»
proclama-se! Por isso, aquela professora, em final de gravidez, não teve receio
de mostrar a maternal barriga e actuou por diversas vezes, mexendo-se com desenvoltura.
Aplaudimos e… acredite, Amiga, com essa barrigona, a mensagem não passou
despercebida! Parabéns!
Terceiro:
há de se admirar o entusiasmo com que todos se entregaram ao papel que lhes
coubera. Sentia-se que os meninos, os jovens, as mulheres e as senhoras estavam
plenamente satisfeitos com os progressos feitos, mostrando invejável à-vontade em
palco. Um entusiasmo conseguido – afirme-se – através de trabalho persistente,
de muitas horas roubadas a outras actividades que menos exigiriam de cada um.
E, desta vez, eu tive a visão de um bocadinho dos bastidores e fixei-me, a dado
passo, naquele menino dos seus dez anitos, se tanto, que se preparava para
entrar (ia numa de hip hop…) e, antes, treinava sozinho os gestos que iria
fazer… Apreciei, compreendi-o!
Finalmente:
ouvimos, a cada passo, nos noticiários, que chovem dificuldades para o ensino
artístico. Não pagam aos professores, não há apoios… Claro, a vontade tudo pode
superar; contudo, impunha-se que, cada vez mais, as entidades competentes
compreendessem que riqueza não se obtém só com negócios. É que, por detrás dos
‘negócios’, têm de estar as pessoas, pessoas felizes, serenas, que sabem
dominar-se (que é a dança senão esse equilíbrio entre o corpo e o espírito?...),
que sabem agir no minuto certo. E as Artes (sim, com maiúscula) têm – devem
ter, urge que tenham! – um lugar tão cimeiro quanto as Ciências e as Letras!
José d’Encarnação
Sem comentários:
Enviar um comentário