quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Dançar, dançar, dançar!...

             Sob o título «Natural é dançar», decorreu, no passado dia 9 de Janeiro, em três sessões, no Centro Cultural Olga Cadaval, em Sintra, o tradicional espectáculo das Academias do Ai!aDança (Sintra I, II e III – Loures I e II – Pontinha – Santa Iria I e II).
            Do programa constava o nome de 710 (!) participantes; na 1ª sessão, 27 quadros, 29 nas outras duas. Ballet, dança contemporânea, hip hop, dança oriental, dança criativa, kizomba, dança espanhola, salsa cubana, flamenco, zumba – foram as modalidades apresentadas, nos mais diversos níveis etários. Citam-se na ficha técnica 20 professores; Joana Rodrigues foi a directora de cena; Sara Correia, Carina Leiria e Carla Raimundo geriram os bastidores; Luísa Santos, Maria João Madeira e Otília Santos, as figurinistas; Pedro Rua, o director técnico; Rui Braga, o técnico de luz. O espectáculo teve o apoio da Câmara Municipal de Sintra e da União de Freguesias de Santa Maria e S. Miguel. Todas as sessões esgotaram.
            Estranhar-se-á, porventura, a preocupação de referir estes nomes todos, podendo muito bem eu ter-me cingido a dizer que por detrás de tudo isto está o génio e o inigualável dinamismo de Lucília Bahleixo. Seria errado. Primeiro, porque a própria Lucília quis deixar bem claro no final (eu assisti à 3ª sessão) que um espectáculo assim não podia ser erguido sem a colaboração de toda uma equipa; depois, porque, na verdade, imaginar pôr em cena, numa ininterrupta sucessão de quadros, tanta gente, em que todos os pormenores (a luz, o cenário, a marcação…) têm de ser calculados quase ao milímetro e ao segundo implica dedicação extrema de muitos.
            Temos acompanhado, com todo o gosto, os espectáculos das Academias do Ai!aDança e garanto, sem medo de errar, que, neste dealbar de 2016, o espectáculo nos encheu as medidas, não apenas por se ter verificado mui sensível subida de nível das actuações de conjunto e individuais (há pequenitas e pequenitos que nos deslumbram de tal modo que – os outros no-lo perdoem!... – nós ficamos grudados neles!), mas também pela variedade dos temas e das bem originais coreografias. Sentíamos, por vezes, que a dança espanhola – não fosse ela a preferida de Lucília Bahleixo!... – era repetitiva; ora, este ano, ainda que o flamenco e as sevilhanas não tivessem faltado, deu-se-lhes a volta, mudaram-se os passos e tudo resultou muito mais fluido e encantador.
            Há quatro aspectos que não posso deixar de realçar.
            O deslumbrante ‘realismo’ – tão próximo de nós – das projecções multimédia. Recordar-se-á, sem dúvida, logo do início, aquelas vagas que parecem rebentar à nossa frente e como a dança nelas perfeitamente se enquadra. E depois, já quase no final, o comovente hino à família! Numa época em que os velhos surgem, amiúde, como um problema e não há ternura que se lhes chegue no doloroso leito a que estão presos, as imagens que nos mostraram, mesmo ali ao alcance da mão (pareciam!...), condimentadas por uma coreografia adequada e fundo musical a condizer, ficarão, sem dúvida, na retina de quantos, emotivamente, as puderam contemplar.
            O segundo aspecto, que já é recorrente mas que sempre importa assinalar: a dança constitui também – pode e deve constituir! – um meio de integração. Não há idade para se frequentar aulas de dança! Ali estão as mães e os filhos. Ali está a sexagenária e o menino de cinco anos. A menina que não tem todas as capacidades que seria suposto ter, mas que pode ser mimada pelos demais. «Natural é dançar» proclama-se! Por isso, aquela professora, em final de gravidez, não teve receio de mostrar a maternal barriga e actuou por diversas vezes, mexendo-se com desenvoltura. Aplaudimos e… acredite, Amiga, com essa barrigona, a mensagem não passou despercebida! Parabéns!
            Terceiro: há de se admirar o entusiasmo com que todos se entregaram ao papel que lhes coubera. Sentia-se que os meninos, os jovens, as mulheres e as senhoras estavam plenamente satisfeitos com os progressos feitos, mostrando invejável à-vontade em palco. Um entusiasmo conseguido – afirme-se – através de trabalho persistente, de muitas horas roubadas a outras actividades que menos exigiriam de cada um. E, desta vez, eu tive a visão de um bocadinho dos bastidores e fixei-me, a dado passo, naquele menino dos seus dez anitos, se tanto, que se preparava para entrar (ia numa de hip hop…) e, antes, treinava sozinho os gestos que iria fazer… Apreciei, compreendi-o!
            Finalmente: ouvimos, a cada passo, nos noticiários, que chovem dificuldades para o ensino artístico. Não pagam aos professores, não há apoios… Claro, a vontade tudo pode superar; contudo, impunha-se que, cada vez mais, as entidades competentes compreendessem que riqueza não se obtém só com negócios. É que, por detrás dos ‘negócios’, têm de estar as pessoas, pessoas felizes, serenas, que sabem dominar-se (que é a dança senão esse equilíbrio entre o corpo e o espírito?...), que sabem agir no minuto certo. E as Artes (sim, com maiúscula) têm – devem ter, urge que tenham! – um lugar tão cimeiro quanto as Ciências e as Letras!
                                                                              José d’Encarnação

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