Começa por
salientar que a batalha de Ourique constitui «um dos pontos mais incertos e falíveis
da História de Portugal», não no que concerne à (naturalmente forjada) lenda do
aparecimento de Cristo a el-rei Afonso mas a três outros pontos: o local do
recontro, o significado da expressão «cinco reis mouros» e, também, a dimensão
dos exércitos que terão estado frente a frente.
Analisa
o Autor, um a um, os testemunhos que se têm aduzido para resolver as questões
em apreço.
Assim,
no que se refere ao sítio onde a batalha se travou contesta a sua localização no Baixo Alentejo e sugere como hipótese mais viável
a região de Leiria, podendo mesmo imaginar-se essa batalha como «um episódio da
reconquista de Leiria» (p. 60). Os argumentos aduzidos, ainda que não ‘decisivos’,
como o próprio Autor concede, devem doravante ser tidos em consideração , ou seja, «a hipótese de a batalha de Ourique se
ter travado perto de Leiria é pelo menos tão verosímil quanto a de o prélio ter
tido lugar no Baixo Alentejo. Talvez seja mesmo mais verosímil» (p. 64).
A
relevância dada à vitória poderá ter justificação
no facto de, assim, Coimbra ter ficado mais imune aos ataques mouros e, daí, a
assunção , por parte de Afonso, do
título de rei, regressado a Coimbra e ovacionado após a refrega. É natural, no
entanto, que a população não tivesse
tido de imediato uma percepção exacta
do significado futuro dessa vitória, até porque, por outro lado, no quatro da
historiografia alcobacense, seria «bem mais gloriosa para o rei seu protector»
uma vitória obtida lá mais para sul, em terras infiéis (p. 67).
Este
ensaio vale, pois, de modo especial, pela reanálise da documentação em presença, em que se lança mão de todos os
dados ora disponíveis, inclusive – é um exemplo – o dos caminhos que, na época,
os exércitos poderiam ter palmilhado, com base no que se sabe, mormente da rede
viária medieval, decalcada, em muitos locais, da rede viária traçada pelos
Romanos. Traz, no final, exaustiva bibliografia.
«Tantos
argumentos que apresentámos não conduzem a segura conclusão mas apenas reforçam
dúvidas: ainda está por vir uma definitiva prova que nos permita uma certeza
quanto ao local da batalha», escreve Jorge de Alarcão, a concluir. Contudo, o
facto de se haver disponibilizado a rever, densamente, a documentação e a complementá-la com novos dados merece o maior
encómio.
José
d’Encarnação
Publicado em archport, a 22-01-2016:
Já encomendei, caro Professor.Abraço
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