É
que, nos anos 50 e 60 do século passado, quando havia o hábito de os moradores
de uma povoação se reunirem uma vez por ano, no Verão, para “fazer um
piquenique”, era no pinhal ora transformado em parque junto ao Bairro da
Chesol, na Aldeia de Juso, que a população da aldeia se reunia. E «piquenique»
era nome simpático e familiar para esse encontro em que se bailava, se comia e
se bebia.
Recordo
que, de semelhante, era a Festa do Pinheiro Manso, ali para a banda das ‘quatro
estradas’ no Alto Estoril; no lugar da Torre, chegou-se a fazer no campo de
futebol que servia a pequenada da Escola de S. José da Bicuda, no topo sudeste
do pinhal da Marinha; e outros piqueniques havia, aqui e além, que ninguém
queria ficar sem o seu. Uma forma de cimentar comunidade, normalmente
organizada pelos dirigentes das sociedades recreativas locais.
Pois
o piquenique da Aldeia de Juso era ali. Por tal motivo, quando – aqui há quase
duas dezenas de anos atrás, já o Bairro da Chesol se considerara completo e os
terrenos à volta eram chamariz para a construção de vivendas – se programou na
Câmara a urbanização do local, a população ergueu-se, a Comunicação Social protestou
e os responsáveis autárquicos tiveram que ceder: para ali não há casa que se
construa! Primeiro, porque se tratava de um pinhal manso – e poucos pinhais
mansos sobravam na freguesia; depois, porque era já nessa altura uma área de
passeio para os moradores, além de exercer belamente a sua benéfica função de
purificador do ambiente. A pretensão morreu, ainda que, no pensar dos moradores
e dos que se interessam por estas questões ambientais, haveria que estar sempre
alerta, não fosse, de um dia para o outro, aparecer por aí plano urbanístico
aprovado…
Uma concretização feliz
Todo esse espaço
entre Birre e a Aldeia de Juso tem, afinal, larga história. Chamava-se Mato
Romão e, nos anos 50 e 60, foi zona de exploração de pedra e, aquando dos exercícios de fogos reais das várias
unidades de Artilharia de Costa, era essa área que se bombardeava a sério. O
primeiro aproveitamento urbanístico foi feito na orla sul, no termo de Birre,
por Arnaldo Peixoto, que aí edificou o que hoje se chamaria um «condomínio», o
primeiro, servido, inclusive – como se lê na pág. 7 da edição de 9 de Julho de
1960 do jornal A Nossa Terra – por
«uma magnífica e limpa piscina para, nestes dias calmosos, se refrescar ou
praticar desporto». «O Mato Romão», escreve-se ainda, «aguarda, apenas, que os
amantes do sossego, da vida sã e pura do campo, dos locais paradisíacos, ali se
instalem para gozarem de todas estas maravilhas».
Manteve-se
o pinhal a sul («O proprietário preservou-o propositadamente», lê-se no
jornal); manteve-se o pinhal a norte; e, entre um e outro, surgiu, com
inauguração solene a 28 de Junho de 1968, o primeiro grande estabelecimento
fabril da freguesia, a Standard Eléctrica, de enorme importância económica e
social para a zona – que deu lugar a uma unidade de cuidados continuados da
Misericórdia de Lisboa, inaugurada a 10 de Julho de 2012. Criou-se a Chesol –
cooperativa de habitação económica dos trabalhadores da Estoril-Sol – e é para
os moradores desta cooperativa e das outras casas que, entretanto, se ergueram derredor
que o novo parque vai servir, com toda esta história por detrás. Foi, por
conseguinte, com o maior júbilo que assisti à inauguração desse espaço por
completo adaptado ao convívio intergeracional e dos vizinhos.
Mantiveram-se
as árvores; criaram-se hortas comunitárias; há bancos por todo o lado;
privilegiaram-se as espécies vegetais autóctones; chilreia a passarada na
gaiola; propiciou-se o exercício físico de crianças e de velhos… E, sobretudo,
respira-se o ar puro e oloroso filtrado pelos pinheiros!
O
nosso voto? Apenas um: que o parque viva, que nunca o deixem morrer! Agonizante
está, não muito longe, em Murches, o desgraçado Parque Urbano das Penhas do
Marmeleiro ou até mesmo um outro, também ele no coração de bairro nobre, o do
Bairro do Rosário, defronte à Escola João Lúcio de Azevedo. Estou convicto,
porém, que seria agravado crime de leso património – e não haverá quem o queira
cometer!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 135, 13-04-2016, p. 6.
A vista para a entrada do lado sul, com um trecho do pomar em primeiro plano |
A panorâmica para o pinhal de sul para norte e a amplidão do espaço |
As hortas comunitárias |
A gaiola que se enche de chilreios...
Post-scriptum (a 04-05-2016):
As
Penhas do Marmeleiro, em Murches, foram alindadas!
Queixara-me, no final do texto
acima, sobre o Parque da Aldeia de Juso, que mereceria maior aten
|
Há boas notícias que se devem divulgar. Esta é uma delas. As fotografias ajudam-nos a conhecer os espaços. Gostei de saber que se mantiveram as árvores, se criaram hortas comunitárias, que há bancos por todo o lado e que chilreia a passarada.
ResponderEliminarAlice Alves Oliveira 14/4 às 14:20
ResponderEliminarDo pomar duvido que consigam comer alguma fruta, nem os residentes na zona, nem os vândalos, porque normalmente ela é colhida ainda verde pelos ditos...