quarta-feira, 13 de abril de 2016

Na Aldeia de Juso, cumpriu-se a tradição!

            Pode parecer estranho um título assim para dar conta da inauguração de um parque urbano. Cumpre explicar-lhe o porquê.
            É que, nos anos 50 e 60 do século passado, quando havia o hábito de os moradores de uma povoação se reunirem uma vez por ano, no Verão, para “fazer um piquenique”, era no pinhal ora transformado em parque junto ao Bairro da Chesol, na Aldeia de Juso, que a população da aldeia se reunia. E «piquenique» era nome simpático e familiar para esse encontro em que se bailava, se comia e se bebia.
            Recordo que, de semelhante, era a Festa do Pinheiro Manso, ali para a banda das ‘quatro estradas’ no Alto Estoril; no lugar da Torre, chegou-se a fazer no campo de futebol que servia a pequenada da Escola de S. José da Bicuda, no topo sudeste do pinhal da Marinha; e outros piqueniques havia, aqui e além, que ninguém queria ficar sem o seu. Uma forma de cimentar comunidade, normalmente organizada pelos dirigentes das sociedades recreativas locais.
            Pois o piquenique da Aldeia de Juso era ali. Por tal motivo, quando – aqui há quase duas dezenas de anos atrás, já o Bairro da Chesol se considerara completo e os terrenos à volta eram chamariz para a construção de vivendas – se programou na Câmara a urbanização do local, a população ergueu-se, a Comunicação Social protestou e os responsáveis autárquicos tiveram que ceder: para ali não há casa que se construa! Primeiro, porque se tratava de um pinhal manso – e poucos pinhais mansos sobravam na freguesia; depois, porque era já nessa altura uma área de passeio para os moradores, além de exercer belamente a sua benéfica função de purificador do ambiente. A pretensão morreu, ainda que, no pensar dos moradores e dos que se interessam por estas questões ambientais, haveria que estar sempre alerta, não fosse, de um dia para o outro, aparecer por aí plano urbanístico aprovado…

Uma concretização feliz
            Todo esse espaço entre Birre e a Aldeia de Juso tem, afinal, larga história. Chamava-se Mato Romão e, nos anos 50 e 60, foi zona de exploração de pedra e, aquando  dos exercícios de fogos reais das várias unidades de Artilharia de Costa, era essa área que se bombardeava a sério. O primeiro aproveitamento urbanístico foi feito na orla sul, no termo de Birre, por Arnaldo Peixoto, que aí edificou o que hoje se chamaria um «condomínio», o primeiro, servido, inclusive – como se lê na pág. 7 da edição de 9 de Julho de 1960 do jornal A Nossa Terra – por «uma magnífica e limpa piscina para, nestes dias calmosos, se refrescar ou praticar desporto». «O Mato Romão», escreve-se ainda, «aguarda, apenas, que os amantes do sossego, da vida sã e pura do campo, dos locais paradisíacos, ali se instalem para gozarem de todas estas maravilhas».
            Manteve-se o pinhal a sul («O proprietário preservou-o propositadamente», lê-se no jornal); manteve-se o pinhal a norte; e, entre um e outro, surgiu, com inauguração solene a 28 de Junho de 1968, o primeiro grande estabelecimento fabril da freguesia, a Standard Eléctrica, de enorme importância económica e social para a zona – que deu lugar a uma unidade de cuidados continuados da Misericórdia de Lisboa, inaugurada a 10 de Julho de 2012. Criou-se a Chesol – cooperativa de habitação económica dos trabalhadores da Estoril-Sol – e é para os moradores desta cooperativa e das outras casas que, entretanto, se ergueram derredor que o novo parque vai servir, com toda esta história por detrás. Foi, por conseguinte, com o maior júbilo que assisti à inauguração desse espaço por completo adaptado ao convívio intergeracional e dos vizinhos.
            Mantiveram-se as árvores; criaram-se hortas comunitárias; há bancos por todo o lado; privilegiaram-se as espécies vegetais autóctones; chilreia a passarada na gaiola; propiciou-se o exercício físico de crianças e de velhos… E, sobretudo, respira-se o ar puro e oloroso filtrado pelos pinheiros!
            O nosso voto? Apenas um: que o parque viva, que nunca o deixem morrer! Agonizante está, não muito longe, em Murches, o desgraçado Parque Urbano das Penhas do Marmeleiro ou até mesmo um outro, também ele no coração de bairro nobre, o do Bairro do Rosário, defronte à Escola João Lúcio de Azevedo. Estou convicto, porém, que seria agravado crime de leso património – e não haverá quem o queira cometer!
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 135, 13-04-2016, p. 6.
A vista para a entrada do lado sul, com um trecho do pomar em primeiro plano

A panorâmica para o pinhal de sul para norte e a amplidão do espaço

As hortas comunitárias

A gaiola que se enche de chilreios...

 
 
Post-scriptum (a 04-05-2016):
As Penhas do Marmeleiro, em Murches, foram alindadas!
               Queixara-me, no final do texto acima, sobre o Parque da Aldeia de Juso, que mereceria maior atenção o parque das Penhas do Marmeleiro, onde, há anos, energúmenos haviam queimado o «forte apache» e, mais recentemente, o incêndio queimara parte dos passadiços e haviam sido vandalizados os painéis explicativos. Fui hoje mesmo informado pela Cascais Ambiente de que a situação mudara, dando-me inclusive a informação do Serviço de Espaços Verdes da Câmara de que «este espaço encontra-se em condições razoáveis de manutenção, muito distante do alegado "abandono"». Congratulo-me e junto duas das fotografias que tiveram a gentileza de me enviar, onde se vê que inclusive outro 'forte' foi construído para gozo da pequenada. Parabéns!
 

2 comentários:

  1. Há boas notícias que se devem divulgar. Esta é uma delas. As fotografias ajudam-nos a conhecer os espaços. Gostei de saber que se mantiveram as árvores, se criaram hortas comunitárias, que há bancos por todo o lado e que chilreia a passarada.

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  2. Alice Alves Oliveira 14/4 às 14:20
    Do pomar duvido que consigam comer alguma fruta, nem os residentes na zona, nem os vândalos, porque normalmente ela é colhida ainda verde pelos ditos...

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