sexta-feira, 15 de abril de 2016

A tirania da Informática

            E o senhor pediu a palavra, levantou-se e declarou:
            ‒ Não dou parecer favorável, porque este relatório foi apreciado há um ano!
            Estava a brincar, porque se tratava, naturalmente, de inofensiva gralha na data; contudo, era um documento oficial e havia mais adiante outros indícios de que se tivera, para poupar tempo, uma apressada atitude de «cópia e cola».
            Dei comigo a pensar na tirania da Informática, que nos poupa, de facto, longas canseiras, mas nos causa, outras vezes, mui sérias dores de cabeça, mormente quando, perante um erro evidente, nos respondem:
             Foi o computador, não há nada a fazer!
            No talão de multibanco daquela firma, há anos que a rua da sede vem indicada como sendo «de Mente Real» e é «de Monte Real»; mas… não há nada a fazer, «trata-se de um erro informático»!
            Na escritura daquela clínica puseram-na como estando localizada num bairro e está bem no coração de um outro. E não há nada a fazer: «Trata-se de um erro informático»!
            Na etiqueta de um produto sólido vem a informação de que pesa 300 ml. Chamei a atenção: mililitro é medida de capacidade! «Lamentamos, não se consegue corrigir, foi um erro informático!».
            Noutra, vem escarrapachado que ‘contém 6 unidades’, mas… estão lá é 4! Temos pena, amigo, mas não pode ser corrigido: foi um erro informático!
            A minha rua tem o código postal 662; a segunda transversal é a 663; a terceira, a 653; mas à primeira foi dado o código 560 e a do 561 está a… 1,7 km dela!... E a do 559 fica num bairro do outro lado da ribeira! Para lá se chegar, a pé, reza o Google maps que são precisos 25 minutos para percorrer esses 1,9 km! Chamei a atenção dos Correios. Lamentamos, senhor, foi um erro informático, não há nada a fazer!
            Gramava mesmo que um «Senhor Computador» se enganasse – para mais! – no processamento dos nossos ordenados e depois alguém viesse proclamar alto e bom som: «Não há nada a fazer: trata-se de um erro informático!». Porque será que, num caso desses, o estapor do computador permitiria de imediato a correcção?!... Ná! Cá para mim, essa «do erro informático» é, amiúde, mais marosca do que realidade! Oh se é!...

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 683, 15-04-2016, p. 11.

11 comentários:

  1. Haja Quem diga a verdade,nua e crua.É pena que só as Finanças,não tenham a nossa morada,lá para as bandas do inferno e,não exista erro informatico,que envie as missivas para lá,em vez de para nossas casas.

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  2. Antónia Mendonça Dias 15/4 às 17:30
    Ao contrário o computador nunca se engana. Gostei bjs.

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  3. Gisela Carvalho 15/4 às 17:35
    Tb gostava de um engano desses!!

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  4. Ana Maria Coelho 5/4 às 17:41
    Concordo também gostava que o computador me desse maior reforma; mas parece-me que a máquina é teimosa

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  5. Isabel Maria Luciano 15/4 às 17:52
    Os "senhores computadores" nunca se enganam. Só processam a informação que lhes dão. O diabo dos computadores têm as costas largas. E parece que os informáticos também já não são o que eram. Emoji wink Abraço.

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  6. Vítor Fialho 15/4 às 18:57
    Tem toda a razão, a folha de ordenado com uns euros a mais sabia bem! Como já foi escrito aqui, os computadores têm as costas largas Emoji smile Como costumo dizer aos meus alunos, os computadores por natureza são burros, o que distingue se o "tal sistema informático" é, ou não, digno de confiança é da inteira responsabilidade de quem o implementa e gere. Com os meus respeitosos cumprimentos.

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  7. Guilherme Valadão 15/4 às 20:07
    Era tão bom, não foi?!

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  8. Maria Mattyes 16/4 às 0:00
    Boa ! Gostei desta meu AMIGO JOSÉ D'ENCARNAÇÃO !!

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  9. Jorge Sanches da Cruz 16/4 às 11:26
    É como os erros das operadoras de telefone, de electricidade, dos bancos e das seguradoras. Nunca se enganam a favor do cliente, sempre em seu prejuízo. Porque será?

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  10. Margarida Lino 6/4 às 20:03
    Palavras para quê, já disseste tudo!

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  11. Ana Teresa 16/4 às 22:39
    Podiam era enganar-se na minha data de nascimento, para me poder reformar mais depressa...

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