Primeiro,
porque me fez recordar os tempos de infância, em que também eu muita vez armei
aos pássaros no Verão. Depois, porque ali deu conta de uma série de termos
próprios dessa actividade – o poiso, o pingalhete, as agúidas ou formigas-d’asa
(que nós sempre pronunciávamos aguídas…), os cabeceiros (ou formigueiros) –
assim como do instrumental que levávamos: o sacho, a lata com as formigas
d’asa, as ratoeiras e, de modo especial, o aro em que, ao final da manhã, preso
aos suspensórios, estariam pendurados pelo bico (assim o esperávamos!...) os
troféus caçados!... Havia, em seguida, a cena do depenar, do chamuscar, do
tirar as entranhas e a cabeça, antes de irem para a frigideira!...
Pelo
tempo dos figos, eram os pardais, as felosas brancas e pretas, os fuinhos… Os
piscos vinham mais tarde, pela azeitona. Pintassilgos não gostávamos de apanhar
à ratoeira, que os preferíamos vivos, para chilrearem na gaiola; aliás, andavam
(e andam) em bandos pequenos (dir-se-ia, familiares) e fazíamos ‘buídas’, que
eram uma espécie de pias chatas para eles irem beber e armava-se
estrategicamente, ao lado, uma rede, que, com toda a perícia, era necessário
fazer-lhes saltar para cima quando estivessem a beber…
Aponto
os muitos aspectos positivos dessa actividade infantil e juvenil de ar livre: a
atenção à natureza, as caminhadas, o aprender a observar aves e plantas, o
saber esperar e guardar silêncio… E caçava-se para comer, no consolo de assim
se ter contribuído para uma, ainda que bem parca, refeição. Na consciência
plena de que, para se terem pássaros no Verão, havia necessidade de, na
Primavera, se criarem condições para a nidificação e se respeitarem os ninhos!...
O
meu abraço, pois, ao Manuel Brito Guerreiro por mais esta bem sugestiva
evocação
José
d’Encarnação
Publicado em Noticias de S. Braz [S.
Brás de Alportel] nº 233, 20-04-2016, p. 11.
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