terça-feira, 19 de abril de 2016

Uma evocação bem sugestiva

             Escusado será dizer que apreciei deveras a crónica «Armar aos pássaros», de Manuel Brito Guerreiro, publicada na passada edição de Noticias de S. Braz (20-03-2016). Mais uma das crónicas a guardar nos anais da nossa terra!
            Primeiro, porque me fez recordar os tempos de infância, em que também eu muita vez armei aos pássaros no Verão. Depois, porque ali deu conta de uma série de termos próprios dessa actividade – o poiso, o pingalhete, as agúidas ou formigas-d’asa (que nós sempre pronunciávamos aguídas…), os cabeceiros (ou formigueiros) – assim como do instrumental que levávamos: o sacho, a lata com as formigas d’asa, as ratoeiras e, de modo especial, o aro em que, ao final da manhã, preso aos suspensórios, estariam pendurados pelo bico (assim o esperávamos!...) os troféus caçados!... Havia, em seguida, a cena do depenar, do chamuscar, do tirar as entranhas e a cabeça, antes de irem para a frigideira!...
            Pelo tempo dos figos, eram os pardais, as felosas brancas e pretas, os fuinhos… Os piscos vinham mais tarde, pela azeitona. Pintassilgos não gostávamos de apanhar à ratoeira, que os preferíamos vivos, para chilrearem na gaiola; aliás, andavam (e andam) em bandos pequenos (dir-se-ia, familiares) e fazíamos ‘buídas’, que eram uma espécie de pias chatas para eles irem beber e armava-se estrategicamente, ao lado, uma rede, que, com toda a perícia, era necessário fazer-lhes saltar para cima quando estivessem a beber…
            Aponto os muitos aspectos positivos dessa actividade infantil e juvenil de ar livre: a atenção à natureza, as caminhadas, o aprender a observar aves e plantas, o saber esperar e guardar silêncio… E caçava-se para comer, no consolo de assim se ter contribuído para uma, ainda que bem parca, refeição. Na consciência plena de que, para se terem pássaros no Verão, havia necessidade de, na Primavera, se criarem condições para a nidificação e se respeitarem os ninhos!...
            O meu abraço, pois, ao Manuel Brito Guerreiro por mais esta bem sugestiva evocação
                                                                  José d’Encarnação
 
Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 233, 20-04-2016, p. 11.

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