Novo
é o ramalhudo ficus; ancião, o cipreste, de uns trinta metros de altura. Danças
de novos, danças de velhos… A dança, aliás, sempre presente no nosso quotidiano
e nas nossas vidas.
A coreógrafa do Euro
Recordei
as “Coreografias de Grupo" de que Teresa Meira se serve, por exemplo, no
Centro Engº Álvaro de Sousa, Estoril, para manter activos os seniores. Vi que
também nesse domínio da coreografia (que jovem ousaria dizer aqui há uns dez
anos «quero ser coreógrafo»?...), há portugueses que se notabilizam por esse
mundo fora. Margarida
Martins, de 30 anos, é uma das coreógrafas assistentes no Euro'2016; formada em Ciências do Desporto, Margarida e os colegas têm
de coreografar cerca de 400 pessoas, em ensaios que «vão desde as duas da tarde
às dez da noite», para nos encantarem antes dos jogos e, até, nos intervalos.
Coreografar, um verbo que poderá, à
primeira vista, parecer estranho: é estudar os movimentos mais adequados de uma
porção de gente, nomeadamente num bailado ou numa peça de teatro: «para onde é
que vou agora?»… E todos os movimentos, em conjunto, têm um sentido estético e
intencional. Na peça ora em cena no TEC, Carlos Avilez fez questão em chamar
para junto de si a multigalardoada Olga Roriz, de renome internacional e uma
das nossas melhores profissionais neste domínio. «Tempestade», de Shakespeare,
com tantos actores em palco, precisava, na verdade, de uma movimentação
específica excepcional.
O espectáculo da EDAM
Também se coreografa, naturalmente, na Escola de Dança Ana
Mangericão, sita no
Buzano, ali paredes-meias com S. Domingos de Rana e Parede. No domingo, 3, no
Auditório Olga Cadaval, em Sintra, mais uma esplendorosa apresentação do
trabalho desenvolvido ao longo do ano lectivo. E, desta vez, de novo Ana
Mangericão optou por um esquema deveras aliciante: em lugar de apresentar
classes de bailado clássico, de dança contemporânea e assim por diante, adaptou
e coreografou uma história: «Charlie e a Fábrica de Chocolate».
Trata-se
do conhecido conto infantil do escritor galês Roadl Dahl (1916-1990), publicado
em 1954, que, pela sua linguagem simples e espontânea, mereceu adaptações cinematográficas
de êxito e, agora, esta adaptação ao bailado: Charlie «procura o bem de todos,
incluindo o dos mais velhos», explica Ana Cristina Mangericão, a directora
pedagógica da EDAM, «sendo essa a sua recompensa e felicidade e não a recompensa
fácil por que as nossas crianças tanto anseiam e que não as fará mais felizes;
pelo contrário, torná-las-á mais vulneráveis à frustração e ao desânimo». Uma
adaptação que vem, por conseguinte, na linha dos objectivos que a EDAM pretende
inculcar nos seus estudantes: «que os valores, os saberes e a sabedoria sejam mais
fundamentados e a sociedade mais harmoniosa».
Naquela
aldeia, a fábrica de chocolate era como que o paraíso que se deseja alcançar.
Quando, por via de um sorteio, alguns dos meninos, entre os quais Charlie
(quase por milagre!), são convidados a ir visitá-la, são confrontados, em cada
sala, com uma prescrição a cumprir. Há sempre, porém, quem prefira arriscar – e
é expulso. Charlie será, pois, o que melhor se comportará e demonstrará, no
final, que a família constitui um valor fundamental, de que ele não prescinde.
Dos
maiores aos mais pequeninos, envergando figurinos criados por Ana Mangericão, Emília
Silva e Vera Rosa, as personagens vão recriando as cenas, que Rodrigo Saraiva,
narrando, vai tornando mais explícitas.
A
história é de uma ternura imensa; mas a ternura que os dançarinos lhe emprestam
consegue ser ainda maior e penetrante.
Parabéns
– a reforçar os fartos aplausos do público (familiares e amigos) que encheram o
Olga Cadaval!
E
fica-me sempre uma mágoa, todos os anos: era tão bom que se conseguissem meios
para que tão deliciosa representação se repetisse!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 147, 04-07-2016, p. 6.
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