Limitemo-nos,
pois, a três salpicos em jeito de notas de circunstância.
O concerto
Cometi um erro: o
de ter aceitado, sem mais, o convite para o concerto extraordinário de Djavan, «expoente
da música popular brasileira», no Casino Estoril, em noite dedicada
expressamente – mas não só – a convidados da Estoril-Sol, ora a comemorar 85 anos.
Errei, porque, apesar de saber que o músico completara 40 anos de carreira em
2015, que fora agraciado com o Grammy Latino de excelência musical e que «encabeça,
em 2016, a
lista do Grammy Latino com 4 nomeações: álbum do ano com “Vidas Pra Contar”, gravação
do ano, melhor canção em língua portuguesa e melhor álbum cantor compositor»,
eu não consegui juntar-me, por ignorância de letras e de toadas, às dezenas de
espectadores que, quase no final, foram para o espaço deixado livre junto ao
palco e cantaram e saracotearam-se e deram palmadinhas na mão do músico e
filmaram com o telemóvel e dispararam fotografias até mais não…
Vi
que, durante o espectáculo, alguns lugares foram sendo deixados livres; que a afluência
à casa-de-banho foi mais frequente do que o normal; que um dos senhores ao lado
passou o tempo a jogar no ipad; que
foi variado o jogo de luzes e que um livro aberto por detrás da banda mostrava
juras de «amor eterno», «ela e eu já não somos dois», «amar é tudo», «quando se
ama vive-se mais»... E jurei que seria mais amante ainda, para chegar aos 90…
Djavan
eu não percebia muito bem o que ele cantava; fazia-se escuro entre um trecho e
outro para ele mudar de guitarra ou despir uma peça de roupa. Fartou-se de
bater o moço da percussão, que se ouvia optimamente, mais do que a voz do
cantor. Deram espectáculo em ar
gingão os senhores dos metais (trompete e saxofone tenor). E o senhor de uma
das guitarras manteve durante toda a actuação
um ar bem solene, qual Marquês de Pombal, cabeleira longa à ‘século das luzes’…
Uma
noite bem passada, com tão elevadas personalidades da Política, da Cultura e da
Sociedade, que se ajuntaram ali.
Os prémios de literatura
Já foi sobejamente
noticiada a cerimónia de entrega dos prémios de literatura criados pela Estoril-Sol,
a que, no final da tarde do dia 9, o nosso Presidente da República presidiu. Mui
justamente agraciada Teolinda Gersão, escritora consagrada, com o Prémio
Fernando Namora; e teve mui profundo discurso de agradecimento o jovem Ricardo Fonseca Mota,
prémio revelação Agustina Bessa-Luís.
Referi
atrás o espectáculo do dia 7; refira-se, agora, a Cultura. «A aposta na Arte,
na Cultura e nos Espectáculos constitui objectivo estruturante da Estoril-Sol,
a nossa distintiva ‘marca d’água’, fiéis, como temos sido, a este conceito
original que introduzimos nos casinos: o indeclinável compromisso com a
Cultura», frisou Mário Assis Ferreira, a abrir a sessão.
«Melhor
do que ter uma boa história é ter a quem a contar; vejam bem se a vida não é
uma coisa linda!», declarou Ricardo Mota, que agradeceu aos pais terem-lhe
ensinado a nunca desistir de fazer perguntas; e concluiu: «Quando coubermos
todos dentro de um poema, uma orquestra virá para nos salvar!»…
O
senhor ministro
Na manhã do dia 11, teve o Sr. Ministro da
Segurança Social uma das experiências que seguramente não vai esquecer. A
Misericórdia de Cascais fez questão em que inaugurasse três pequenos espaços, singelos
mas significativos, no Centro de Apoio Social do Pisão: uma salinha de
exposições dos trabalhos que os utentes vão fazendo; «Ondas & Cristas», o
salão de cabeleireiro (imprescindível esta atenção
à imagem em pessoas que nem sempre sabem que o são…); e a sala «Família»,
espaço onde, em serenidade, o utente poderá estar com o familiar que porventura
o venha ver.
Uma
visita que emociona sempre e de que, esperamos, se vejam resultados.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 165, 23-11-2016, p. 6.