Na
juventude, li muitos livros sobre os costumes dos animais, quando ainda não
havia os documentários que há hoje nem existia a National Geographic com esses espantosos programas. E uma das informações
que me deliciou foi saber que, antes de se instalar num recanto da floresta, a
família de castores, marc a o
território com um líquido de cheiro bem activo (seria almíscar?).
Diariamente
os noticiários nos informam dos bombardeamentos e correspondentes mortandades
por questões de domínio territorial. «Nunca mais se entendem!» – desabafamos
nós. Os outros castores respeitam o território daquela família que ali se
instalou; os homens não lhes seguem o exemplo. E até se matam parentes por meras
questões de partilhas!...
Ao
longo dos tempos, sempre o Povo se ergueu em Cortes contra a prepotência das
classes dominantes – os nobres e o clero – por causa do território. Quiçá
também precisasse de se erguer, agora, contra outra classe dominante, os
gestores municipais, quando ocupam baldios ou quando, por obscuros (ou
evidentes…) interesses imobiliários, deliberam transformar em aedificandi uma área que secularmente o
não era… E quando, por toda a parte, se apropriam, sem tir-te nem guar-te, do
espaço público para – através das taxas de parqueamento automóvel – usurparem
dinheiro aos contribuintes! O esquema é o mesmo do da Idade Média, com a
diferença de que já não há Cortes onde o Povo possa reclamar os seus direitos, nem
os detentores do poder (ao contrário dos reis d’outrora) se preocupam em mandar
instaurar inquirições ou exigir confirmações, porque, aliás, dessa exemplar
governação medieval terão certamente
uma vaga ou mesmo nenhuma ideia…
Antec ipando o Lisbon Web Summit, previsto para este
mês de Novembro, o número de Outubro da UP,
revista de bordo da TAP Portugal, escolheu para seu tema genérico Portugal Connected, a fim de se
demonstrar, no fundo, que, mediante as novas tec nologias,
acabamos por verificar que… não há limites!
E
não há mesmo! E o Povo que se submeta!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento
(Mangualde), nº 695, 01-11-2016,
p. 11.
Muito bem analisado meu amigo. Os tempos modernos só nos trazem enxofradelas bjs
ResponderEliminarBem tecido este texto, aliás, já nos habituou a esse «almíscar» com que as suas palavras vão despertando a nossa atenção e alimentando o nosso gosto. Para quando outro livro? Abraço grande.
ResponderEliminar«Anónimo» acima quer dizer Julieta mas continuo na Idade Média da informática.
ResponderEliminarJulieta Lima
Agradeço o esclarecimento e voi corrigir.
ResponderEliminarMaria David
ResponderEliminar3/11 às 12:42
Bem hajam os animais irracionais… Têm mais tino que alguns que se julgam racionais.
Helena Santos 3/11 às 13:10
ResponderEliminarSem dúvida! Parabéns. Excelente, professor.
Albino Ladino 3/11 às 15:17
ResponderEliminarOtimo
Margarida Lino 3/11 às 17:14
ResponderEliminarMeu querido amigo, temos tanto que aprender com os animais. E, a propósito de território, devo dizer que no teu território cultural, poucos são aqueles que conseguem entrar. Beijinho!
Ana Teresa 3/11 às 20:46
ResponderEliminarFaço minhas as palavras da antecessora, Professor. Bjs.
Vitor Cantinho 4/11 às 9:41
ResponderEliminarFez-me lembrar também o jovem arqueólogo, quando chega e instala a sua demarcação rigorosa no terreno, como território seu... Esquadrinha o terreno, define o lote à medida, coloca a cobertura para se abrigar do sol e da chuva, qual "estufa" para gerar "frutos" silvestres...
Manuel Ai Quintas 6/11 às 17:56
ResponderEliminarMeu Caro José, o território agora é o mundo, e até pode ser virtual. Quer dizer, não temos território nosso, muito menos podemos marcá-lo. Grande abraço.
José d'Encarnação 6/11 às 20:14
Bem hajas pelo comentário, Manuel. Mas quanto a não termos território nosso, lembra-me a frase do Orwell: «Todos os animais são iguais, mas há uns que são mais iguais que outros». Nós, o cidadão comum, o civil, não tem território; mas há umas máquinas que o têm e muito, comandadas por cidadãos não comuns...
Manuel Ai Quintas 7/11 às 9:01
Sim, é verdade! Resta-nos o território dentro de nós, marcado por nós, para ser só nosso.
Fernanda Gonçalves partilhou a tua publicação:
ResponderEliminarUma verdade diariamente comprovada...
Fernanda Gonçalves
ResponderEliminar9/11 às 2:43
Excelente texto. Até me faz lembrar qualquer coisa que se vai passando por este concelho fora... fico sempre deliciada com os seus textos. Obrigado. Abraço!