quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Ela e eu já não somos dois!

           Tantas são as iniciativas a que Cascais diariamente assiste que seria rematada loucura alguém as querer referir todas nem que fosse com duas ou três frases de mero noticiário. O final do ano civil e a proximidade – vamos aceitar o termo… – do final de um mandato autárquico propiciam, é bem de ver, invulgar acréscimo de inaugurações, de obras e, até, de acontecimentos culturais!...
            Limitemo-nos, pois, a três salpicos em jeito de notas de circunstância.

O concerto
            Cometi um erro: o de ter aceitado, sem mais, o convite para o concerto extraordinário de Djavan, «expoente da música popular brasileira», no Casino Estoril, em noite dedicada expressamente – mas não só – a convidados da Estoril-Sol, ora a comemorar 85 anos. Errei, porque, apesar de saber que o músico completara 40 anos de carreira em 2015, que fora agraciado com o Grammy Latino de excelência musical e que «encabeça, em 2016, a lista do Grammy Latino com 4 nomeações: álbum do ano com “Vidas Pra Contar”, gravação do ano, melhor canção em língua portuguesa e melhor álbum cantor compositor», eu não consegui juntar-me, por ignorância de letras e de toadas, às dezenas de espectadores que, quase no final, foram para o espaço deixado livre junto ao palco e cantaram e saracotearam-se e deram palmadinhas na mão do músico e filmaram com o telemóvel e dispararam fotografias até mais não…
            Vi que, durante o espectáculo, alguns lugares foram sendo deixados livres; que a afluência à casa-de-banho foi mais frequente do que o normal; que um dos senhores ao lado passou o tempo a jogar no ipad; que foi variado o jogo de luzes e que um livro aberto por detrás da banda mostrava juras de «amor eterno», «ela e eu já não somos dois», «amar é tudo», «quando se ama vive-se mais»... E jurei que seria mais amante ainda, para chegar aos 90…
            Djavan eu não percebia muito bem o que ele cantava; fazia-se escuro entre um trecho e outro para ele mudar de guitarra ou despir uma peça de roupa. Fartou-se de bater o moço da percussão, que se ouvia optimamente, mais do que a voz do cantor. Deram espectáculo em ar gingão os senhores dos metais (trompete e saxofone tenor). E o senhor de uma das guitarras manteve durante toda a actuação um ar bem solene, qual Marquês de Pombal, cabeleira longa à ‘século das luzes’…
            Uma noite bem passada, com tão elevadas personalidades da Política, da Cultura e da Sociedade, que se ajuntaram ali.

Os prémios de literatura
            Já foi sobejamente noticiada a cerimónia de entrega dos prémios de literatura criados pela Estoril-Sol, a que, no final da tarde do dia 9, o nosso Presidente da República presidiu. Mui justamente agraciada Teolinda Gersão, escritora consagrada, com o Prémio Fernando Namora; e teve mui profundo discurso de agradecimento o jovem Ricardo Fonseca Mota, prémio revelação Agustina Bessa-Luís.
            Referi atrás o espectáculo do dia 7; refira-se, agora, a Cultura. «A aposta na Arte, na Cultura e nos Espectáculos constitui objectivo estruturante da Estoril-Sol, a nossa distintiva ‘marca d’água’, fiéis, como temos sido, a este conceito original que introduzimos nos casinos: o indeclinável compromisso com a Cultura», frisou Mário Assis Ferreira, a abrir a sessão.
            «Melhor do que ter uma boa história é ter a quem a contar; vejam bem se a vida não é uma coisa linda!», declarou Ricardo Mota, que agradeceu aos pais terem-lhe ensinado a nunca desistir de fazer perguntas; e concluiu: «Quando coubermos todos dentro de um poema, uma orquestra virá para nos salvar!»…

O senhor ministro
            Na manhã do dia 11, teve o Sr. Ministro da Segurança Social uma das experiências que seguramente não vai esquecer. A Misericórdia de Cascais fez questão em que inaugurasse três pequenos espaços, singelos mas significativos, no Centro de Apoio Social do Pisão: uma salinha de exposições dos trabalhos que os utentes vão fazendo; «Ondas & Cristas», o salão de cabeleireiro (imprescindível esta atenção à imagem em pessoas que nem sempre sabem que o são…); e a sala «Família», espaço onde, em serenidade, o utente poderá estar com o familiar que porventura o venha ver.
            Uma visita que emociona sempre e de que, esperamos, se vejam resultados.
 
                                                        José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 165, 23-11-2016, p. 6.

  

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