Gosto
da frase, que é como quem diz: pancada dum lado, toque do outro, ajuste num
terceiro e… zás! Tá pronto!
Meu
pai usava boina basca, como era hábito nos anos 50; e mofava comigo sempre que
eu punha a minha às três pancadas, sem jeito: «Põe-me a boina direita, môce!».
Significava
a frase ‘desmazelo’ e utilizava-se muito em relação
à indumentária, quando a pessoa não revelava cuidado consigo. Hoje, parece que
temos sempre os segundos todos contadinhos, numa correria. E há, por isso, o
risco de fazermos muitas coisas às três pancadas.
Pensava
eu que a Internet, por exemplo, e, designadamente, essa maravilha que é o correio
electrónico, pela sua eficácia e rapidez, acabaria por nos deixar mais tempo
livre ou, pelo menos, nos ajudaria a fazer as coisas menos atabalhoadamente.
Puro engano o meu! E o pior é que, nesse aspecto, o mau exemplo está a vir de
cima, dando a ideia de que todos os senhores cultos andam que nem loucos e nem
sequer vêem o que estão a fazer! Como aquele sábio grego que caminhava a olhar
para o céu, a estudar os astros e – catrapuz! – espetou-se num buraco do chão!
Ora
vejam-se estes exemplos:
–
Recebo uma mensagem electrónica que tem como assunto «Eulalia» e traz o anexo «TARJETON
PROGRAMA.qxp.MaquetacioÍn 1. pdf». Pdf sei o que é: a sigla de «Portable Document Format», «formato de documento portátil». E o resto, o
que é?
– Um colega meu
enviou-me um artigo intitulado ATT00599!...
–
Um outro dizia: AAAd 84 Cresci Marrone – Cresci
–
Outro ainda: 25_pdfsam_Turtas_interno – Mastino
E
textos que recebo sem indicação da
revista onde foram publicados ou ainda com as linhas de corte nas páginas!?...
Ou
seja: aparentemente ou é ignorância e o pessoal não sabe como é que se muda o
título de um anexo ou não está para se maçar e… faz tudo às três pancadas, meia
bola e força!
Um
sintoma triste, sobretudo por partir de quem parte: de pessoas cultas e de
instituições de prestígio! Para quê correr tanto e não se aprimorar?
Lembro-me
do anúncio daquele uísque:
«Todos
os dias, milhões de pessoas se levantam do lugar antes de o avião parar os
motores! Para quê tanta pressa?!... Uísque Y – para saborear sem pressas!...».
Pois.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento [Mangualde], nº 697, 01-12-2016, p. 10.
Joaquim Cardoso
ResponderEliminar2/12 às 16:36
Às 3 pancadas é como nós andamos todos...
Albino Ladino
ResponderEliminar2/12 às 14:17
Ótimo! às três pancadas sobre correio, Internet, correio eletrónico, etc.
Vítor Fialho
ResponderEliminar2/12 às 17:09
Caro Professor, acabo de ler a sua crónica. Bastante assertiva, sem sobra de dúvida! Pelo que nos deu a conhecer pela sua crónica (permita-me a intromissão, mas como lido diariamente com computadores, emails, etc... tenho algum conhecimento de causa), penso que reinam os dois estados simultaneamente: a ignorância e o desleixo. Posso-lhe garantir o seguinte: se eu recebesse um email desses na minha caixa do correio electrónico, pensava duas vezes antes de o abrir, pode ser vírus! Mesmo com a extensão pdf. Sabe, já vi muita coisa! De facto, como refere e bem, há quem queira correr sem qualquer tipo de primor, mas como diz o ditado :"Depressa e bem não há quem...". Ou então: "Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo!" Penso que este último se adequa mais à sua intervenção. Nos tempos que correm, quem não sabe enviar um email com um anexo bem explanado, mais valia ir plantar batatas.... Bolas, não é preciso ter curso superior para tal. Quem tenha nas suas fileiras tais funcionários não está de todo bem servido... isso garanto-lhe! Bem haja pelas suas palavras!
Bem haja, Vítor, pelo apoio! E aqueles que aproveitam o assunto de uma mensagem recebida e nos escrevem sobre um tema completamente diferente, sem se darem ao trabalho de mudar o «assunto«?
EliminarVítor Fialho
ResponderEliminarCaríssimo professor, só uma palavra: desleixo!
Josemari Vallejo
ResponderEliminar4 de Dezembro de 2016 18:48
Muy bueno el artículo!
Un saludo