Realizou-se, no passado sábado, dia 10, no Auditório Senhora da Boa Nova (Galiza, S. João do Estoril), o Concerto de Inverno da Orquestra Sinfónica de Cascais, sob a habitual direc
Arriscou
o maestro duas peças que mesmo um leigo compreende serem de mui difícil execução , pela extrema variedade das intervenções que
cordas e os metais são chamados a ter no segundo exacto, para se calarem
segundos depois e logo intervirem de novo.
Lilia Donkova |
Rezava
o programa que iríamos ouvir «duas das mais emblemáticas obras do repertório sinfónico
de Viena». Uma, a Sinfonia “Grande” D. 944, sinfonia nº 9, em dó maior, de
Franz Schubert (1797-1828), datada precisamente do ano da sua morte e
considerada por muitos como a precursora do que viriam a ser as grandes obras
de Mahler (1860-1911) e de Anton Bruckner (1824 -1896). A outra, o
concerto – que também pelo estilo, poderia também entrar no género das
sinfonias – do compositor alemão Johannes Brahms (nasceu em Hamburgo, em 1833, e viria a falecer em Viena em Abril de 1897), o concerto para violino
e violoncelo em lá menor (op. 102), datado de 1887, a última obra que
Bramhs viria a escrever para orquestra.
Anastasia Kobekina |
Longamente
aplaudimos a segunda parte do espectáculo, a excelente interpretação da sinfonia nº 9 do incomparável Schubert, soberbamente
executada; mas os aplausos foram ainda mais longos, de pé, no final da
primeira, porque a búlgara Lilia Donkova, no violino, e a russa Anastasia
Kobekina, no violoncelo, estabeleceram entre si, como solistas, um diálogo,
que, como sói dizer-se, só visto e ouvido – pela alegria ,
pela entrega, pelo virtuosismo, pelo imenso saber!... Até nos pareceu que o
resto da orquestra ficava assim lá no fundo, discreta, a deixar inebriar-se
pelo que Lilia e Anastasia tocavam!...
Lilia
Donkova é já nossa conhecida, porque é concertino na Orquestra de Câmara de
Cascais e Oeiras, uma figura sempre de primeira plana nos concertos, e é
professora de violino no Conservatório de Música de Cascais. E do extremo virtuosismo
de Anastasia não nos poderemos admirar se soubermos que nasceu numa família de músicos,
começou a aprender violoncelo aos 4 anos e toca hoje num violoncelo fabricado,
em 1743, por Giovanni Baptista Guadagnini
(1711-1786), o mais célebre construtor de violinos da 2ª metade do século
XVIII.
Mais
uma vez não resisto a dizer que saímos do Boa Nova com a alma cheia! Músicos e
maestro estão de parabéns e nós imensamente gratos pelo privilégio de os termos
ouvido interpretar com entusiasmo e enorme saber duas peças de antologia! E
temos a certeza de que todos os músicos hão-de ter já anotado esta data no seu
currículo, dado o privilégio – sem dúvida, raro! – de haverem tocado com estas
duas extraordinárias intérpretes como solistas.
José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 14-12-2016:
Sem comentários:
Enviar um comentário