quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Um diálogo que encantou e mereceu mui fartos aplausos


             Realizou-se, no passado sábado, dia 10, no Auditório Senhora da Boa Nova (Galiza, S. João do Estoril), o Concerto de Inverno da Orquestra Sinfónica de Cascais, sob a habitual direcção do maestro Nikolay Lalov.
            Arriscou o maestro duas peças que mesmo um leigo compreende serem de mui difícil execução, pela extrema variedade das intervenções que cordas e os metais são chamados a ter no segundo exacto, para se calarem segundos depois e logo intervirem de novo.
Lilia Donkova
            Rezava o programa que iríamos ouvir «duas das mais emblemáticas obras do repertório sinfónico de Viena». Uma, a Sinfonia “Grande” D. 944, sinfonia nº 9, em dó maior, de Franz Schubert (1797-1828), datada precisamente do ano da sua morte e considerada por muitos como a precursora do que viriam a ser as grandes obras de Mahler (1860-1911) e de Anton Bruckner (1824 -1896). A outra, o concerto – que também pelo estilo, poderia também entrar no género das sinfonias – do compositor alemão Johannes Brahms (nasceu em Hamburgo, em 1833, e viria a falecer em Viena em Abril de 1897), o concerto para violino e violoncelo em lá menor (op. 102), datado de 1887, a última obra que Bramhs viria a escrever para orquestra.
Anastasia Kobekina
            Longamente aplaudimos a segunda parte do espectáculo, a excelente interpretação da sinfonia nº 9 do incomparável Schubert, soberbamente executada; mas os aplausos foram ainda mais longos, de pé, no final da primeira, porque a búlgara Lilia Donkova, no violino, e a russa Anastasia Kobekina, no violoncelo, estabeleceram entre si, como solistas, um diálogo, que, como sói dizer-se, só visto e ouvido – pela alegria, pela entrega, pelo virtuosismo, pelo imenso saber!... Até nos pareceu que o resto da orquestra ficava assim lá no fundo, discreta, a deixar inebriar-se pelo que Lilia e Anastasia tocavam!...
            Lilia Donkova é já nossa conhecida, porque é concertino na Orquestra de Câmara de Cascais e Oeiras, uma figura sempre de primeira plana nos concertos, e é professora de violino no Conservatório de Música de Cascais. E do extremo virtuosismo de Anastasia não nos poderemos admirar se soubermos que nasceu numa família de músicos, começou a aprender violoncelo aos 4 anos e toca hoje num violoncelo fabricado, em 1743, por  Giovanni Baptista Guadagnini (1711-1786), o mais célebre construtor de violinos da 2ª metade do século XVIII.
            Mais uma vez não resisto a dizer que saímos do Boa Nova com a alma cheia! Músicos e maestro estão de parabéns e nós imensamente gratos pelo privilégio de os termos ouvido interpretar com entusiasmo e enorme saber duas peças de antologia! E temos a certeza de que todos os músicos hão-de ter já anotado esta data no seu currículo, dado o privilégio – sem dúvida, raro! – de haverem tocado com estas duas extraordinárias intérpretes como solistas.
                                                            José d’Encarnação
Publicado em Cyberjornal, 14-12-2016:

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