Natural
de Gândara dos Olivais (Leiria), onde nasceu a 14 de Dezembro
de 1929, formou-se o autor como engenheiro geógrafo, mas será, sem dúvida, a
poesia que o imortalizará, uma vez que poemas seus foram musicados e gravados
por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Jorge Letria,
José Carlos Ary dos Santos. Um poeta, pois, da resistência.
Tive ocasião de apresentar, a
27-05-2009, na Bibliotec a Municipal das Galveias (Lisboa), o seu livro «O Fio das Harpas»; prefaciei «Notas de viagens – Ritmos e Mitos» (Coimbra,
2015); e tive igualmente o gosto de fazer o prefácio para estes «poemas
ocasionais»:
O
meu texto – que me seja perdoada a insolência – começa assim
“Dizem-se
«ocasionais». De ocasião. Como suspiro d’alma que se dá, de quando em vez,
perante o inusitado, ao ler uma frase sentida, ou, mesmo, diante do rumo
ziguezagueante de uma Humanidade ora, cada vez mais, a desmerecer inicial
maiúscula.
Voz
a ecoar pelas quebradas. Um rio. Já o imperador romano Marco Aurélio escrevia
ser a vida qual rio torrentoso: mal acabas de ver a folhinha flutuante, ei-la
que já lá vai e, em seu lugar, outra vem, em jeito de abalada.”
É que, se
não errei, assim se poderia compendiar a mensagem que Fernando Miguel Bernardes
nos quer transmitir. Como quem não quer a coisa, lá vai lançando a sua certeira
seta contra os «montes maninhos», «as verduras
transgénicas», «frutas maduras de intervenções polémicas» (p. 61).
Poderíamos alargar-nos em dissertações técnicas sobre a manipulação dos
alimentos, mas… estes dois versos «frutas
maduras de intervenções polémicas» carecem, acaso, de mais explicação?
«Eleito a
falsas promessas, este no comando agora – ai, ai, Coriolano!... – eis, por fim,
tudo às avessas, os cidadãos ao engano!» (p. 81). Que mais é preciso dizer para
verberar quem promete mundos e fundos para ser eleito e, depois, faz exactamente
o contrário do prometido?
E se nos
sentássemos ao relento com um sem-abrigo – se é que tínhamos coragem para
conversar com ele.. – que lhe ouviríamos dizer? E Fernando Miguel Bernardes, em
singela pincelada diz tudo:
«Tu
tens uma cama quente
a
mim o que me ajuda
é
um trago de aguardente!». (p. 14).
Não
resisto a transcrever, pela sublime acutilância que os dois tercetos do poema
«parasitas» encerram, retrato fiel de como, na escolha certa das palavras, se desnuda
um estado d’alma, se brada forte um grito de revolta:
vérmina
– disse o doutor
ao
ser pelo doente
consultado
vermes
– disse o eleitor
ao
ser pelos que elegeu
parasitado (p. 90).
Um livro
para meditar!
José d’Encarnação
Publicado em
cyberjornal, edição de 10-12-2016:
Sem comentários:
Enviar um comentário