sábado, 24 de dezembro de 2016

É triste!

           No passado dia 21, pouco antes das 15 horas, um carro da Polícia Municipal de Cascais estaciona na rotunda junto ao Centro Cultural e os agentes dirigem-se para junto de um carro de serviço da Câmara Municipal de Cascais, devidamente identificado, estacionado no passeio junto à muralha da Cidadela. Uma outra força policial – porventura a PSP – procedera ao bloqueio da roda dianteira esquerda, dado que o veículo se encontrava em manifesta infracção.
            Vi que um dos agentes pegou no telemóvel e fez uma chamada e ficaram todos calmamente à espera (penso) que alguém da entidade bloqueadora chegasse.
Foto tirada no passado dia 21, às 14 h 50 m e 17 s.
Tanto o agente que telefonava como um outro senhor procuraram
que a objectiva não apanhasse o bloqueador, que, porém, se vê perfeitamente.
            Quando passei, comentei em voz alta – confesso que um pouco desabridamente – o insólito caso de o membro de uma entidade policial, para quem, por sinal, o Município tem procurado obter melhores instalações e mais confortáveis condições de serviço, ter tido aquela actuação, partindo nós do princípio de que o funcionário camarário ali deixara a viatura por instantes, a fim de, em serviço, ir ao vizinho Centro Cultural ou, até, ao Parque Marechal Carmona, onde, nesse dia, funcionava a Aldeia de Natal e todos os lugares de estacionamento em redor estavam, por isso, ocupados. Queriam os agentes da PSP castigar o funcionário delinquente? Optavam, naturalmente, pensei eu, por multar, deixar papelinho e o funcionário que se amanhasse depois com os seus superiores. Não: a opção escolhida foi o bloqueio! Não sais daqui sem eu vir!
            Está a PSP no seu pleno direito. Agiu o agente conforme a consciência lhe ditou, certo de que estava a cumprir rigorosamente a sua obrigação. Há que lhe atribuir um louvor? O leitor que opine, se assim o entender, porque daí lavo eu as minhas mãos, desde o dia em que comecei a ouvir histórias dessas e se intensificaram os ataques suicidas na Síria, na Alemanha, em França e em tantas outras partes do mundo; e desde o dia em que, frente à entrada da Academia das Ciências de Lisboa, vi também bloqueado pela EMEL o carro do vice-presidente da Câmara de Oeiras que ali fora para uma sessão solene, em representação oficial.
            Lavo as mãos. Acabo, porém, como cidadão, por me preocupar: que é que faz correr assim estes senhores? Os da Síria, do Estado Islâmico e outros sabemos o que é: a crença de que, morrendo por Alá, matando os inimigos «Infiéis» têm para todo o sempre um delicioso oásis com mui deliciosas huris? Será que, por estas bandas, já se sonha também com inimigos, oásis e huris?
            Seja como for, que me seja permitido emitir opinião: é triste que, tanto lá como cá, essas mentalidades perdurem!
            Um amigo meu mostrava sempre ao revisor do comboio o bilhete errado, mas tinha o bom no bolso. «Ó pai, perguntou o filho, porque é que mostraste o errado, se sabes que tens o bom?». «Eu explico-te, filhote. Já viste a vida monótona do senhor se todos os dias, quando chega a casa, nada tiver para contar à mulher? Assim, sempre poderá dizer-lhe: ‘Imagina que hoje, um velhote queria armar-se em esperto e mostrou-me um bilhete caducado! Mas eu apanhei-o!».
            Creio que, na noite do passado dia 21, o agente bloqueador deve ter tido bom motivo de conversa à mesa com a família!...

                                                                                  José d’Encarnação

1 comentário:

  1. "NINGUÉM ESTÁ ACIMA DA LEI" portanto esteve bem o agente que procedeu á imobilização do veiculo além do mais estacionar em rotunda é considerado infracção grave não percebo o seu espanto TRISTE é ver funcionários públicos a passearem-se em veículos dos estado pagos pelo erário público

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