quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Coleccionar, sim… e depois?

            Sente-se, em determinados momentos da vida, a necessidade de ‘arrumações’. Ou porque se pensa em mudar de casa ou porque já estamos cansados de procurar coisas que não sabemos onde param ou porque gavetas e armários estão atafulhados…
            A Loja Social da Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana, em Outeiro de Polima, recebeu, outro dia, da nossa parte, uma quantidade de sacos com roupas e objectos ainda em bom estado, que vão servir para quem deles necessite. Também por aqui e por ali há contentores de várias instituições que recebem roupa, sapatos…
            Há, porém, ‘tralhas’ que aparentemente já não têm préstimo algum e que há instituições – de idosos, de crianças… – que as reutilizam, para dar vida a criações que não nos passavam pela cabeça. É, pois, uma questão de estarmos atentos. De resto, a Cascais Ambiente recebe os chamados «monstros»; basta telefonar; contudo, nada custa, ao mesmo tempo, pôr esses «monstros» junto dos ecopontos, pois há sempre quem passa, olha e… aproveita!
No fundo, o que interessa é:
            a) no caso das arrumações em casa, optarmos por cada vez melhor aproveitarmos o nosso tempo e desanuviarmos o pensamento, pois coisas fora de sítio são marteladas constantes na cabeça «tenho, um dia, que arrumar isto; tenho, um dia, que arrumar isto» – e porque não deitar mãos à obra e arrumar já?
            b) No caso de vestuário e calçado que deixou de servir, sermos úteis aos outros e evitar poluir o ambiente deixando-os por aí ao Deus-dará, enquanto há instituições e amigos que os podem aproveitar; no caso de roupinhas de bebé, por exemplo, que servem apenas durante uns meses, nem tanto, quantos de nós não sabemos, na nossa roda de amigos, de roupinhas que já vestiram três, quatro ou cinco bebés?
            c) Em suma, estarmos bem connosco mesmos.

Os livros e as colecções
            Dois casos merecem reflexão à parte: os livros e as colecções.
            Todos nós ouvimos, quase diariamente, as lamúrias de amigos nossos: já não tenho sítio onde pôr os livros. Não sei que lhes hei-de fazer. Um amigo meu, regressávamos nós de um congresso em Navarra, onde, como é hábito nessas circunstâncias, acabamos sempre por ser obsequiados com publicações, confidenciou-me: «Agora, chego a casa com mais três livros e minha mulher diz logo “escolhe aí três para retirares e pores esses no lugar deles!...».
            Os lugares apropriados para os livros que temos a mais ou de que já não necessitamos são (se não tivermos amigos que os queiram) as bibliotecas. O problema das bibliotecas é que estão também elas a carecer de espaço e não têm pessoal para catalogar o que se lhes entrega. Há, pois, que escolhê-las. Se sabemos que uma – pública ou de uma instituição – está com essas dificuldades, o melhor é não lhe bater à porta ou, então, fazer-lhe uma consulta prévia. Custa-me ver, de vez em quando, contentores cheios de livros, porque alguém os herdou e não está para se maçar: lixo com eles! Se procurarmos bem, há sempre quem os queira e aproveite. Aliás, poderia pensar alguém em criar uma página no facebook, por exemplo, onde se recolhessem informações: «nós aceitamos livros policiais», «nós preferimos livros infantis», «livros de História? – aceitamos!»…
            Quanto às colecções, os coleccionadores, se vêem que os filhotes estão noutra, o que desejavam era ter uma salinha com o seu nome num museu ou mesmo um espaço museológico. Nem todos, porém, têm a sorte de um Mestre Carapeto, que encontrou a sensibilidade de uma Junta de Freguesia próxima da população e, hoje, no Outeiro de Polima, justamente no edifício onde há a Loja Social, podemos admirar as miniaturas de embarcações de todo o género que, ao longo de uma vida, Mestre Carapeto foi fazendo – e é um regalo vê-las!
            E entre os que anseiam por um espaço assim conta-se, entre nós, José Manuel Neto, de Alcabideche, que me escreveu há tempos:
            «Para além das muitas exposições que tenho feito pelo país, gostaria mais de as expor em museu onde, em conjunto com a restante colecção sobre os bombeiros e a sua história, pudesse ser vista e consultada por todos os interessados. Neste momento são cerca de 7000 miniaturas, mais de um milhar de livros e outras publicações sobre os nossos bombeiros, cerca de 1000 medalhas e condecorações diversas, mais de 900 crachás, brinquedos; enfim, um mundo que só se poderá descobrir através dum local próprio para esse efeito».
            Pelos vistos, ninguém está interessado. E é pena!

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 163, 09-11-2016, p. 6.

2 comentários:

  1. Vítor Fialho
    10/11 às 9:45
    Já tive a oportunidade de ver uma pequena parte da colecção alusiva aos Bombeiros. Alguns dos itens estão expostos no quartel dos Bombeiros de Alcabideche (antigas instalações). Vale a pena visitar. É pena que não se dê oportunidade e valor a quem faz algo por uma causa e se dedique à mesma. É a época do parecer e não do ser.

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  2. Muito obrigado pela lembrança para esta minha colecção. Continua sem interessados apesar de algumas diligências. Parece que o tema bombeiros não é grado para um museu.

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