segunda-feira, 19 de março de 2018

A Casa do Artesão

             Os responsáveis pela agenda cultural São Brás Acontece passaram largos meses a visitar artesãos, pessoas reais que ainda mantinham a tradição de fazerem empreita ou moldarem o barro de acordo com os saberes ancestrais que haviam herdado de seus avós.
            Louvei, em devido tempo, essa bem meritória iniciativa e guardo religiosamente os exemplares da agenda que disso se fizeram mui louvável eco.
            Custa-me ver, por exemplo, uma Feira do Artesanato do Estoril, criada em 1964, na sequência do Mercado de Abril que se realizava em Belém, onde, hoje, só há praticamente o chamado «artesanato urbano», indiferenciado, e se deixaram de convidar os que fazem os bonecos de Estremoz (hoje Património Cultural da Humanidade) ou uma Rosa Ramalho, que dava continuidade à típica louça de Barcelos. Custa dinheiro a sua deslocação das terras de origem e, por isso, essa Fiartil (com ressaibos internacionais…) deixou de ser o reclame para a louça de Molelos e de Bisalhães ou para as bilhas de Nisa.
            Artesanato autêntico moldado à maneira tradicional consolida saberes e mostra como os antigos sabiam fazer das tripas coração e assim aproveitavam tudo quanto a Natureza gratuitamente lhes oferecia: o esparto, a palma, o vime…
            Consolou-me, pois, saber que se inaugurara, a 20 de Janeiro, p. p., «em pleno coração da vila», a Casa do Artesão, com a finalidade expressa de «apoiar o artesanato e a produção local», na certeza de que, desta sorte, se iria criar também «um novo pólo de interesse turístico». Sim, criar-se-á, de facto, se se seguirem à risca as linhas da tradição; se se incentivarem os jovens a calcorrear as pisadas de seus avós; se à tradição – a manter – se aliar, aqui e além, um toque de modernidade aliciante.
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 256, 20-02-2018, p. 13.

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