O restaurante
continua a constituir um dos equipamentos imprescindíveis no dia-a-dia. Se já
antes se recorria ao procedimento do take away (levar para casa), os tempos
pandémicos tornaram este expediente quase banal e foi – deve dizer-se! – uma forma
de muitos restaurantes não encerrarem definirem as portas.
Passado o
período do maior contágio, eis que a ida ao restaurante se encarou de imediato como
forma de espairecer, de sair, de conviver!
Sempre a
refeição se apresentou, de resto, não apenas como ‘necessidade’ mas, de modo
especial, qual imprescindível meio de cimentar comunidade. Não estabeleceu Jesus
Cristo a ceia como momento fundamental da Sua vida? Não é com uma boda que se
celebra o casamento? ¿Não vem de longe – mormente do tempo dos Romanos – o hábito
de, no dia de aniversário da morte, se evocar o morto com um banquete funerário,
de que temos, aliás, inúmeras representações pictóricas e em baixos-relevos de sarcófagos?
Não admira,
pois, que ser «chef» (sim, tem de ser em francês…), sobretudo se distinguido com
estrelas Michelin, se antoje como meta deveras almejada e que, concomitantemente,
se aplique ao serviço, em restaurantes, a palavra «conceito», amiúde ligada à
noção de «gourmet» (a língua francesa de novo a dar cartas).
O vocábulo
«conceito» reúne em si todo um conjunto de opções pretensamente inovadoras,
passíveis de proporcionar originalidade. Acontece que nem sempre «original» equivale a «conforto», a «eficácia», mas…
utilizámos um novo ‘conceito’, ¿não utilizámos?
Sabe-se que «gourmet»
significa ‘guloso’, ‘gourmandise’ é… guloseima! Conhece-se também o rifão
popular «Os olhos também comem!». Daí, o conceito – em que a apresentação, o
empratamento se guindam a protagonistas da cena! Até a loiça se escolhe a dedo,
para melhor se adequar ao conceito pretendido.
Tenho na minha,
porém, que três elementos fazem e mantêm um restaurante: o ambiente físico, a
atenção do pessoal e a boa confecção dos pratos. O demais adiciona mas não
substitui. Alguém me confessava, há dias: ter um restaurante é uma arte que se
quer agradável; gulosa, sim, mas apetecível e reconfortante. O pessoal de
serviço detém na cena – ele, sim! – o papel fundamental, na atenção máxima a todos
os pormenores, de todas as mesas a seu cargo, da globalidade da acção. Compreende-se,
por isso, que haja tão poucos a quererem
abraçar tal profissão!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 834, 01-12-2022, p. 12.
Post-scriptum: a imagem pode ser boa explicação para a ideia de... 'conceito':
Já terei comentado este texto! Impossível que um artigo de gastronomia e seu conceito passassem por mim em vão. Mas como vejo a informação de "sem comentários", volto aqui num ápice.
ResponderEliminarPrimeiro para subscrever que "os olhos também comem", ou contam muito na apreciação de qualquer prato. O puro design chegou às mesas.
Algum com pouca substância, isto é, mal se vendo o principal. Por isso um comensal habitual de um restaurante onde comia um belo arroz de polvo com pataniscas do mesmo, quando o restaurante mudou de gerência e lhe serviram o prato, perguntou :ao funcionário: "olhe, por acaso não se esqueceram de nada?"
"De quê? " -Perguntou o outro
"Do polvo, não consigo vê-lo"...
Como resposta levou com o pano encharcado de um olhar de gelo e pronto, comeu o aperitivo. e foi caçar restos para casa.
Engraçado que tenho a noção de haver cada vez mais gente ligada a iniciativas de restauração. Falham muitos projectos, porque é preciso servir comida que se veja e uma Arte qualquer, exige excelência.
Podem criar-se gourmandises, bom, gulodices, acepipes, com produtos singelos, mas uma carne, um peixe, ou uns legumes, devem ser frescos, com garantia de excelente proveniência. Agradeço muito a oportunidade de rever travessas com comida...Um abraço.