segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Adufe, o instrumento e a agenda!

            A criação, na orgânica municipal, de um sector dinamizador das iniciativas culturais, veio dar-lhes o papel que elas efectivamente detêm na vida de um concelho.
            Bem depressa se compreendeu, porém, que iniciativas sem público não têm jeito nenhum e, por isso, a ‘figura’ da agenda cultural ganhou mui significativa expressão. Distribuída porta a porta, disponibilizada em lugares-chave, mais ou menos bem estruturada de molde a ser de mui fácil consulta…
            A chegada da Internet e a criação das páginas virtuais de cada município encheram de entusiasmo os seus adeptos, que facilmente se convenceram e convenceram os responsáveis autárquicos de que… a Internet é que é bom! Nada de papel, nada de gastar dinheiro, nada de abater árvores!... Toda a gente que quer saber se há bailado esta noite, ou fados, ou a inauguração da exposição, ou o que de importante tem o património concelhio… está tudo ali, à distância de um clique!
            Tenho procurado mostrar como esta concepção está errada, porque nem toda a gente tem acesso à Internet, nem toda a gente dispõe de computador (ou, tendo-o, nem sempre o ‘sinal’ é o melhor…) e, sobretudo, nem toda a gente tem tempo para abrir a página da autarquia e tentar descobrir – clica aqui; não, clica ali; não, é mais além!… – o que há para ver no próximo fim-de-semana!
            Por isso me não canso de louvar, por exemplo, o Município de Idanha-a-Nova, por nos brindar com Adufe. Dir-se-á que não é bem uma agenda cultural; não o é, de facto: apresenta-se como «revista cultural», mas exerce as funções de uma agenda, inclusive sendo bilingue, o que é de muito louvar numa autarquia da raia!
            Tenho presente o nº 23, de 2015. É roteiro (artesãos, gastronomia, restaurantes, turismo de natureza e caça, alojamento, associações culturais, informações úteis…), mas é também um repositório de mui excelente apresentação gráfica! Logo o portefólio nos delicia com a reprodução de panfletos, postais, seguros, cédulas, jornais, sabonetes, tudo relacionado com a Casa das Novidades fundada em 1898. Entrevista-se Rosário Cordero, presidente da Diputación Provincial de Cáceres, que «quer retomar a cooperação com os municípios portugueses vizinhos». «Para além da fachada» mostra exemplares da arquitectura popular, em eloquentes fotografias. Merece lugar de relevo Ervas da Zoé, que, no Ladoeiro, recupera as «ervas da vida» (poejo, perpétua-roxa, tomilho, salva, hortelã brava...). Visitam-se as pinturas do Palácio Hermínia Manzarra. Recupera-se a memória de Jaime Lopes Dias, «notário, vereador, administrador e jornalista» de Idanha. E ainda há tempo para falar dos patos selvagens!
            Adufe, o instrumento; Adufe, uma agenda, instrumento também de exemplar divulgação cultural – a aplaudir!

                                                                       José d’Encarnação

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 673, 15-11-2015, p. 12.

 

1 comentário:

  1. Aurora Martins Madaleno´
    Eu também sou adepta das agendas culturais em papel. A Internet não dá tanto jeito para acompanhar, apesar de já haver pessoas que dispensam que se gaste dinheiro em publicações em papel.

    Ana Teresa
    Eu apresentei, por escrito,em papel, reclamação à Câmara de Cascais pelo desaparecimento da agenda cultural em papel, mas voz de uma só pessoa não chega a lado nenhum. Responderam que o C traz uma (...!!!) página com os eventos. (Mas a agenda cultural trazia muitas mais coisas para além dos eventos).


    José d'Encarnação
    A sua voz juntou-se à minha, Ana Teresa, que também chamei de imediato a atenção para o erro que, em meu entender, se estava a cometer, até porque Cascais detinha uma das agendas culturais mais bem estruturadas do País.


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