O cenário... |
Direi,
porém, que a chacina de Paris vem na sequência – queira-se ou não – do que na
própria peça eloquentemente se apresenta, ainda que tudo se faça passar num bem
longínquo século XI e numa Escócia governada por Macbeth. Mas também então há
gente que se assassina a frio, à punhalada, só para não deter o poder.
Assassina-se quem o detém, quem o apoia e quem poderá vir a fazer sombra aos
novos poderosos. Claro, «para dourar a pílula», há todo um clima de
superstição, de visões, encantamentos… e três sedutoras bruxas, qual coro de
tragédia grega, incitam, profetizam, enfeitiçam…
O requinte do trajo real! |
A maravilha do vestido real |
O espectáculo
Não perguntei a
Carlos Avilez se escolhera a peça pela sua flagrante actualidade. Provavelmente,
não. Terá querido, apenas, voltar a pôr em cena um Shakespeare, que é sempre um
desafio maior.
Uma bruxa e suas transparências |
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Um trio de excepção: Carlos Avilez, Miguel Graça e Fernando Alvarez. Carlos
Avilez foi, de novo, o encenador rigoroso, o que tudo exigiu. Miguel Graça
trouxe-nos uma versão muito própria, com o estilo apurado a que já nos
habituou. Mais uma vez, a cenografia e os figurinos estiveram a cargo do génio
que é, sem dúvida, Fernando Alvarez, génio de experiência feito.
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Lugar à parte justificam, desta feita, os figurinos. Rosário Balbi foi a mestra
de guarda-roupa e as costureiras (Helena Fonseca, Lurdes Silva, Manuela
Fernandes, Palmira Abranches e Teresa Balbi) souberam concretizar às mil
maravilhas o que fora concebido. A originalidade do corte de todo esse
guarda-roupa, quer dos elementos masculinos quer dos femininos, merece o maior
destaque e, se prémio houvera para a modalidade «figurinos e guarda-roupa
teatrais», eu o daria aqui, sem a menor dúvida! Excelente!
Por
fim, a representação: a peça é um clássico, vestido, por isso, da austeridade a
que o teatro inglês nos habituou. Os actores compreenderam-no bem e tivemos o prazer
de verificar quanto se apuraram na boa dicção, no gesto contido, na expressão
corporal adequada. Houve, é natural, protagonistas, os que têm mais falas, os
que desempenham um papel com maior relevo no desenrolar da acção (Marco
d’Almeida em Macbeth, Flávia Gusmão em Lady Macbeth, por exemplo); contudo, a
impressão que nos fica é que a equipa brilhou por igual, na entrega máxima ao
que lhe fora proposto fazer.
Uma
tragédia que poderia ter-se passado assim no longínquo século XI. Uma tragédia
que ora se passa, inesperada e em rasto bem doloroso, nesta segunda década do
século XXI. Um milénio se esvaiu, a sanha do Homem não!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 117, 18-11-2015, p. 6.
Margarida Lino
ResponderEliminarObrigada Zé pelo teu comentario sobre os nossos artistas e a nossa cultura, que bem precisam, bjs!
Maria Delfina Vasconcelos
Muito bom, Zé Manel! Que coincidência, Macbeth e Paris em 6ª feira, 13!!!!