Um exemplo: vais participar, em
capital estrangeira, numa reunião da tua especialidade e a tua expectativa,
longamente acarinhada, será: vou aí reencontrar amigos de décadas, que há
alguns anos não vejo e com os quais apenas mantenho contacto, de vez em quando,
através de correio electrónico. Daremos aquele abraço real tanta vez repetido
virtualmente; tomaremos um café ou, à hora da refeição
ou na pausa-café, dirás da tua vida, saberás das deles, de filhos e de netos, e
transmitirás, olhos nos olhos, aquilo que o correio electrónico é incapaz de
fazer. Sim, poderias ter comunicado também por skype ou pelo messenger;
mas… não é a mesma coisa!
Puro engano!
A maior parte desses teus amigos
apareceram meia hora antes do horário previsto para a sua intervenção e, na pausa-café, é «olá e adeus!», porque devem
partir de seguida para outra reunião que, aproveitando o ensejo, fora
previamente agendada para a mesma cidade. Ou, então, necessitam de ir apanhar o
comboio porque, noutro local ou no seu próprio local de emprego, outra
actividade os espera!
Uma correria!
Por detrás dessas vidas a correr
está o sistema instituído por entidades superiores, que determinaram objectivos
rígidos a cumprir, sob pena de não se avançar na carreira, de se ficar a marc ar passo ou, simplesmente, de, sem aviso prévio,
não se ver renovado o contrato.
Pensava – sei agora que ingenuamente
– que essas «entidades superiores» eram presididas por pessoas, que também
tinham família, que gostavam de ter momentos de pausa, que apreciavam o cultivo
da amizade… Não! Presidem-nas autómatos, ligados a computadores cheios de
gráficos, que lhes chegam através da internet de outros países com
características completamente diferentes do seu, mas que, apesar disso, eles
vão procurar introduzir, porque… «vem de fora!» e tem, por isso, de ser bom.
«Indignai-vos!»,
proclama Stéphane Hessel. Indignação precisa-se!
Contra esta loucura institucionalizada que, obviamente, não leva a sítio nenhum!
José d’Encarnação
Publicado em
Ana Teresa
ResponderEliminar18/10 às 23:35
Por muita globalização que haja, um latino nunca será igual a um nórdico, um asiático, um africano, etc.
Fabio Liborio Rocha
ResponderEliminar19/10 às 19:46
Grande pensamento crítico sobre a sociedade do consumo pós moderna, Dr. José d'Encarnação.