Lembrei-me dele agora, a propósito
dos incêndios, imagine-se! E porquê? Porque há nele um capítulo sobre as
multidões eleitorais, em que se diz, a dado passo: o programa verbal de um
político nunca é exagerado, «podem prometer-se sem receio as mais amplas
reformas. No momento, os exageros produzem bastante efeito e não comprometem o
futuro. O eleitor não se preocupa nada em saber se o eleito obedeceu à
profissão de fé aplaudida e à qual deve a vitória». Não se prometeram, agora,
mundos e fundos? Que tudo seria sanado, que se fariam reuniões para criar
consensos, que se destinariam verbas específicas para…?
De vez em quando, há um jornalista
malandreco que vai remexer papéis ou gravações áudio ou vídeos e traz essas
promessas prá ribalta. E é, então, um coçar de cabeça, um desembrulhar de
desculpas, que não era bem assim, que as circunstâncias, afinal, mudaram muito…
Claro que há também aquele outro
jornalista inocente: «Porque é que há mais fogos em Agosto?». O interlocutor lá
tenta arranjar uma resposta minimamente viável, e resiste a declarar a pergunta
improcedente… E será que é totalmente improcedente? Não há aí um Agosto todos
os anos? Não há aquelas leis que, em Agosto, se prometem fazer e que, depois,
se baralham todas umas às outras, porque não se pode roçar o mato agora por
causa das cobras, nem cortar ramos por causa dos ninhos, nem abater aquela
porque é espécie protegida… E o cidadão anda de Anás para Caifás e cada qual
interpreta a lei à sua maneira e as Câmaras é que deviam obrigar… Mas se elas
próprias nem limpam o que lhes pertence!... E, por outro lado, sabem lá quem é
o proprietário, pois o terreno está no nome dum trisavô que tem uma catrefada
de descendentes e nem eles sabem que aquilo lhes pertence!...
Por isso, eu gosto do Gustave Le
Bon:
«O candidato – leia-se ‘o político’
– que consegue descobrir uma fórmula nova, bastante destituída de significado
preciso e, por consequência, adaptável às mais diversas aspirações, obtém um
sucesso infalível»!
E diz o Povo: «Como ele fala bem!».
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 693, 01-10-2016, p. 11.
Aurora Martins Madaleno
ResponderEliminarQuando será que se previnem os incêndios de Agosto? Não será com negociatas, mas com a seriedade no cadastro e na limpeza e guarda das matas.
ResponderEliminarJota Be
Mas..e o negócio? não pode acabar.
Vitor Cantinho
ResponderEliminarSoube, entretanto, que os ciprestes são verdadeiras "barreiras" contra a propagação de incêndios florestais. E, ainda por cima, afastam a "inveja"...
Sonia Carmona Antunes
ResponderEliminar5/10 às 20:54
Acutilante, como sempre, Caro Professor.