terça-feira, 4 de outubro de 2016

A Psicologia das Multidões

            O título não é meu. Copiei-o de um livro que Gustave Le Bon (1841-1931), médico e sociólogo francês, publicou em 1895. Identifico-o facilmente na minha estante dos livros de bolso de Publicações Europa-América, onde tem o nº 365 (nem sempre me recordo…), porque é o único a que pus capa, tantas são as vezes que me apetece consultá-lo.
            Lembrei-me dele agora, a propósito dos incêndios, imagine-se! E porquê? Porque há nele um capítulo sobre as multidões eleitorais, em que se diz, a dado passo: o programa verbal de um político nunca é exagerado, «podem prometer-se sem receio as mais amplas reformas. No momento, os exageros produzem bastante efeito e não comprometem o futuro. O eleitor não se preocupa nada em saber se o eleito obedeceu à profissão de fé aplaudida e à qual deve a vitória». Não se prometeram, agora, mundos e fundos? Que tudo seria sanado, que se fariam reuniões para criar consensos, que se destinariam verbas específicas para…?
            De vez em quando, há um jornalista malandreco que vai remexer papéis ou gravações áudio ou vídeos e traz essas promessas prá ribalta. E é, então, um coçar de cabeça, um desembrulhar de desculpas, que não era bem assim, que as circunstâncias, afinal, mudaram muito…
            Claro que há também aquele outro jornalista inocente: «Porque é que há mais fogos em Agosto?». O interlocutor lá tenta arranjar uma resposta minimamente viável, e resiste a declarar a pergunta improcedente… E será que é totalmente improcedente? Não há aí um Agosto todos os anos? Não há aquelas leis que, em Agosto, se prometem fazer e que, depois, se baralham todas umas às outras, porque não se pode roçar o mato agora por causa das cobras, nem cortar ramos por causa dos ninhos, nem abater aquela porque é espécie protegida… E o cidadão anda de Anás para Caifás e cada qual interpreta a lei à sua maneira e as Câmaras é que deviam obrigar… Mas se elas próprias nem limpam o que lhes pertence!... E, por outro lado, sabem lá quem é o proprietário, pois o terreno está no nome dum trisavô que tem uma catrefada de descendentes e nem eles sabem que aquilo lhes pertence!...
            Por isso, eu gosto do Gustave Le Bon:
            «O candidato – leia-se ‘o político’ – que consegue descobrir uma fórmula nova, bastante destituída de significado preciso e, por consequência, adaptável às mais diversas aspirações, obtém um sucesso infalível»!
            E diz o Povo: «Como ele fala bem!».
 
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 693, 01-10-2016, p. 11.

4 comentários:

  1. Aurora Martins Madaleno
    Quando será que se previnem os incêndios de Agosto? Não será com negociatas, mas com a seriedade no cadastro e na limpeza e guarda das matas.

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  2. Vitor Cantinho
    Soube, entretanto, que os ciprestes são verdadeiras "barreiras" contra a propagação de incêndios florestais. E, ainda por cima, afastam a "inveja"...

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  3. Sonia Carmona Antunes
    5/10 às 20:54

    Acutilante, como sempre, Caro Professor.

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