quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

O teatro são as pessoas!

             Estreou no Teatro Gil Vicente, em Cascais, no sábado, 4, a revista «Gil Vicente em Revista», produção do Grupo Cénico da A. H. dos B. V. de Cascais, com encenação de Luís Lourenço. O objectivo: evocar o que, ao longo de cem anos, ali se tem feito de teatro amador. E quantos tiveram a dita de assistir viram, de imediato, quanto labor ali se desenvolveu, devido à carolice de uns quantos, que não querem – de forma alguma! – deixar morrer a tradição.
            Pronto: a notícia estava feita; os dados principais lançados e… partia-se para outra! Jornalisticamente, decerto nada haveria a apontar, até porque o Grupo já estivera no «Portugal em Directo» na RTP 1 e em programas de rádio e estava tudo dito.
            Não estava. E daí o título. Não apenas porque essa é uma frase que se acentuou – «O Teatro são as pessoas e essas são eternas!» –, mas sobretudo porque foi logo isso que se sentiu ao entrarmos no nosso Gil. Encontrámos pessoas, convivemos com pessoas, sorrisos, abraços e beijos, fortes apertos de mão… uma família! A Cascais autêntica! Em contraste com a «despersonalização» quotidiana em que estamos embrenhados, neste emaranhado de leis de que temos sérias dúvidas se são pensadas por pessoas ou por autómatos programados por um Big Brother qualquer. E esta proclamação do valor das Pessoas carece de ser bem erguida. De modo especial pelo teatro de revista, porque ele permite, através de variados quadros, focar criticamente o quotidiano que nós vivemos e não aquele imaginado em herméticos gabinetes políticos.
            E viu-se. E sentiu-se. Logo os primeiros acordes, após as pancadinhas de Molière, suscitaram palmas ao ritmo compassado. E assim do princípio ao fim.
Varinhas e pescadores - a Cascais d'outrora!...
            O ancião estava sentado. Por detrás dele, no ecrã, esse longo percurso teatral, aplaudido. Mormente a Senhora dos Navegantes, como que o ex-líbris do Grupo. Vieram pescadores. Varinas (já não as há, estão é nas grandes superfícies). O primeiro amor. A menina que nasceu de doze meses, sempre atrasada na vida, a que resta a consolação de que há-de chegar atrasada ao seu funeral. Os preços das bancas no Mercado da Vila. A nova colecção de nabos que anda por aí. A peixotaria. A menina que só ataca nos Oitavos. O adereço que ficou tem-te-não-caias, comprado nos chineses da Luta. A horta do convento de freiras: tomates práqui, tomates práli e pepinos mirrados… Afinal, em vez dessa horta, pode ir ver-se outra com muitos nabos, noutro Convento, o de S. Bento. O sem-abrigo: «Deus te abençoe, meu filho!», diz-lhe o transeunte bem posto, «tens bom corpo para trabalhar!». «Bom corpo tenho, não tenho é trabalho!». Sem-abrigo, palhaço que anda a rebuscar no lixo algo com que matar a fome: «Conheço muitos palhaços de fato e gravata e esses não andam ao lixo».
Ternuras de recém-casados que sonham
            A visita do casal a uma herdade. Olha, aqui são as coelheiras; os coelhos, sabes, aquilo é uma alegria, «foi um instantinho, não foi?». Uma alegria. Já ali, na capoeira, é capaz de ser uma vez por semana. E a mulher a preferir a história dos coelhos. E o marido a não saber que dizer, embora a história da capoeira já lhe agradasse mais. E aqui é a vacaria; o boi vai lá uma vez por ano. «Vês, mulher?». «Vejo, pois. E tu já viste o que ele tem na cabeça?»…
            No hospital, pulseira vermelha. Passou um: «Espera que já te atendo». Passa outro: «Espera que já te atendo». Duas horas depois, morreu de angústia, o coitado!
A geringonça?
            Toques na política, local ou geral, nadinha! Crítica social, sim. A mulher mouca que ouve tudo ao contrário. O casal de gagos que pára a palavra na sílaba onde não deveria parar. As coscuvilhices: «Tu conheces, filha!»…
            Um texto, portanto, para rir a bandeiras despregadas, servido por adequada partitura musical, cenários a condizer, actores que sabem desenrascar-se a preceito, figurinos de deixar de beiça caída o que de melhor se faz no Teatro que não é popular.
            E, claro, era aqui que cabiam os nomes desses actores e dos responsáveis por cada uma dessas peças de que a ‘geringonça’ tão belamente se compôs. Peço perdão: não tive tempo de copiar a folha que estava cá fora no átrio e onde vinha tudo explicadinho tintim por tintim. Prometo que copio para a próxima.
            Ah! Falta uma palavra: PARABÉNS, em letras bem gordas! Bem hajam por nos ajudarem a continuar Cascalenses de verdade!
                                                                                  José d'Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 173, 08-02-2017, p. 6.
Fotos retiradas, com a devida vénia, da página do Grupo Cénico no FB.

4 comentários:

  1. Teresa Losada
    8/2 às 15:32
    Já vi, e adorei, recomendo, todos ao Gil Vicente. ��um beijinho amigo.

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  2. Gisela Carvalho 9/2 às 9:30
    Obrigada, Amigo, pelas palavras, pela atenção, pelo elogio de um Amigo que ama este Grupo Cénico da AHBVC e pela sua divulgação.
    Como o Prof. José d'Encarnação escreveu: «[...] Bem hajam por nos ajudarem a continuar Cascalenses de verdade!. Obrigada e um grande beijinho no seu <3. GI

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  3. Joaquim Carvalho, 9/2 às 18:08
    Meu Caro Amigo José d'Encarnação
    A amizade é uma predisposição recíproca, que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro. Obrigado por tudo!

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