sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Sangria desatada...

             Desde pequeno que me habituei a ter tios e primos por Franças e Araganças. Sei que há familiares meus em Meknés (Marrocos); nunca os conheci, que para lá foram, de S Brás de Alportel, trabalhar nas pedreiras, quando o são-brasense João Rosa Beatriz, vice-cônsul de Portugal em Mazagão, lhes facilitou os vistos, na 2ª década do século XX. Lembro-me vagamente de minha avó falar também de parentes nossos na Argentina. Já mais tarde, nas décadas de 50 e 60, radicaram-se em Toronto, no Canadá, membros da família Encarnação e por lá fazem a sua vida. Primos direitos labutam na França e na Suíça.
            Creio não haver família alguma minha conhecida, da minha geração, que não tenha filhos no estrangeiro. Este, no Qatar; aquele, na Austrália; aqueloutros em Macau, em Angola, na Inglaterra, na Bélgica, na Escócia, na Suécia, no Brasil… Como escreveu Júlia Néry, «que o português é semente que em qualquer terra dá fruto…»!
            As telecomunicações destroem a distância, é certo; os voos mais baratos facilitam enormemente as deslocações – mas, diga-se o que se disser, é bem diferente o beijo doce enviado pelo skype do abracinho terno e quente em presença!...
            Globalizámo-nos, justifica-se. Passo, porém, nos arredores de uma qualquer cidade do nosso interior. Para ali se planeou, com «dinheiros europeus», vistoso parque industrial, cujas maravilhas se proclamaram na Comunicação Social, presença de senhores ministros aquando do lançamento da 1ª pedra, discursos laudatórios mui fecundos em números a haver, promessa de centenas de empregos novos, juras de fixação das gentes, a evitar a fuga para as grandes cidades do litoral e, agora, para a estranja. Mas… os parques ficaram-se pelas infra-estruturas, ora a apodrecer sob o peso das intempéries, e os empregos não vieram!...
            Sentimos na pele a ferida aberta da neta que também já partiu, do filho que é «português no mundo» e que Alice Vilaça até é capaz de vir a entrevistar pró seu programa na Antena 1…
            Dói.
            Sangria inestancável, desatada...
            Formámos gente cujos elevados méritos são agora outros que os aproveitam.
            Dinheiro deitado à rua!

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Renascimento [Mangualde], nº 700, 01-02-2017, p. 11.

5 comentários:

  1. Não posso, infelizmente, estar mais de acordo, meu caro Professor. E, entretanto, sem demérito para os obstinados que ainda por cá permanecem, dou por mim a pensar no empobrecimento inevitável que esta sangria (nos) acarreta e há algo de Velho do Restelo em mim que se desata, incontrolavelmente.
    Grande abraço.

    ResponderEliminar
  2. Tanto esforço, tanta vontade, tanto cérebro enriquecido para que o nosso país os aproveitasse...Depois , no estrangeiro são os emigrantes desvalorizados muitas vezes ou outras enaltecidos, é o que nos vale! E por cá quem fica,(?) pergunto-me muitas vezes.

    ResponderEliminar
  3. Prof.
    Não é dinheiro deitado à rua. Desde logo porque muito desse dinheiro, senão todo, veio de Fundos Europeus (muito milhares de milhões desde a adesão, em 1986), pelo que pelo menos os países da União Europeia estão simplesmente a utilizar recursos que foram formados com os impostos dos seus cidadãos; e também porque, ao emigrarem para países mais ricos, obtêm salários que não obteriam em Portugal, reenviando eventualmente para o nosso país algum montante desse rendimento sob a forma de poupança; e ainda porque sendo emigrantes qualificados podem regressar ainda mais qualificados.
    Quero notar que os EUA são uma nação desenvolvida muito justamente devido à mobilidade inter-estadual dos seus melhores recursos humanos, que procuram sempre uma melhor remuneração para as suas qualificações. Tenho muito amigos americanos, na área da economia, professores universitários e gestores, que mudam de estado algumas vez duas e três vezes ao ano. A racionalidade económica manda que procuremos alocar recursos escassos (como o trabalho altamente especializado) nas aplicações de maior retorno. Se procedermos assim estamos simplesmente a ser eficientes, isto é, não estamos a desperdiçar recursos escassos. Manter em portugal quadros especializados ociosos, quando existe para eles alternativas noutros países é um desperdício que um país como o nosso não se pode dar ao luxo.
    Grande abraço,
    José Soares

    ResponderEliminar
  4. Fiquei aqui a balançar, pois entendo e concordo com as reflexões apresentadas pelo meu Amigo José d´Encarnação... Também José Soares focou os aspectos muito positivos da projecção dos nossos compatriotas além fronteiras. Em todos os tempos houve a fixação mental de que fora deste pequeno rectângulo a vida correria mais ao gosto e anseios de cada um . Correram-se riscos e correm -se para dar projecção ao nosso EU seja intelectualmente ou materialmente. Sempre será assim,mas não deixamos de ter em mente que o nosso país está num certo percurso de "fenecimento". As médias industrias e o comercio estão numa luta ingloria para sobreviver e "dar" emprego, quando são sugadas de impostos até ao tutano, quando há uma concorrência desleal imparável. Então qual será a política de fixação que os governos entendem ser adequada à conjuntura. Nenhuma. São só pequenos remendos.

    ResponderEliminar
  5. Asa empréstimo empréstimo empresa estão prontos para emprestar-lhe qualquer quantidade que você precisa para iniciar o seu negócio pessoal. Eu dou para fora o empréstimo à taxa de interesse de 2%, assim que amável aplica para o empréstimo agricultural da agricultura. Se você precisar de empréstimo entre em contato com nosso e-mail: asaloaninstituteplc@gmail.com, você também pode entrar em contato com este e-mail: asaloaninstituteplc@yahoo.com

    Asa loan lending company are ready to loan you any amount you need to start up your personal business. we give out loan at 2% interest rate, so Kindly apply for agricultural farming loan. if you need loan contact our email:asaloaninstituteplc@gmail.com, you can also contact this email:asaloaninstituteplc@yahoo.com

    ResponderEliminar