sexta-feira, 21 de abril de 2017

A raia na Ericeira ou o raio da Ericeira

            Divulguei ontem uma iniciativa que se me afigurou curiosa e inovadora: a Mostra Gastronómica de Raia, que vai decorrer no próximo fim-de-semana, amanhã e depois, 22 e 23 de Abril, na Ericeira.
            Acho bem. Primeiro, porque houve um tempinho em que se não ligava muita importância à raia e que é excelente frita ou na caldeirada, mormente porque a gente não carece de se preocupar com as espinhas (para isso, basta-nos o ‘estapor’ do safio…); depois, porque é um peixinho bem simpático (admiráveis e elegantíssimas as que se pavoneiam no Oceanário); e, em terceiro lugar, porque, como reza a «informação à imprensa» que recebi:
            «A raia é um peixe abundante na Ericeira e continua a fazer parte dos saberes e sabores da vila. Depois de seca, amanhada e bem lavada, a raia é passada por salmoura. Em dias de sol, é colocada à porta das casas para ir secando, pendurada nos estendais, como se fosse roupa lavada. Uma forma económica de alimentar a família em tempos difíceis».
            Claro, volto ao assunto para incitar as gentes a irem até à Ericeira, que vale a pena. Sobretudo por um pormenor para que o amigo arquitecto Alves Bicho me chamou a atenção: é que tudo vai passar-se «a partir das 16 horas na nova arena de show cooking instalada no Mercado Municipal da Ericeira». Topas? Uma «nova arena de show cooking»!... (Eu cá ponho em itálico, porque é coisa de anglicismo).
            Pois é. Proibiram (dizem), as touradas, para que eram precisas as arenas. Também já não lutas de gladiadores como nos tempos da antiga Roma, onde tudo se passava nas arenas. Venha, pois, daí a arena de show cooking! Abençoada Ericeira!
            E vamos lá pensar nos actores. A «informação à imprensa» é bem clara:
            «Vão também haver demonstrações culinárias, nos sábados e domingos programados».
            «Vão haver»?!...
            Se a competência dos demonstradores for tão grande como a de quem faz a promoção, que ignora algo que gramaticalmente é básico, que o verbo haver, com o significado de existir, só se usa na 3ª pessoa do singular... estamos conversados! Mas não. Os demonstradores serão, de certeza, os velhos pescadores da Ericeira, que sabem preservar a tradição. E, se calhar, até preferiam cozinhar numa vulgar tasca, bem à portuguesa, do que numa arena de show cooking, para turista ver!...

                                                                                  José d’Encarnação

7 comentários:

  1. Ana Salgado

    Uma Ericeira "cool"!

    E pegou mesmo moda o tal "show cooking". Há milhares de ocorrências...
    Pela sua origem seria preferível um "cooking show", mas eis que, depois de o termo ser usado para designar os programas televisivos da moda culinária, serve agora como substituto de uma tão faminta e pobre 'demonstração culinária' (eu sei lá!).
    A arte de cozinhar ao vivo em que os chefes preparam os pratos em frente ao público, havendo lugar para a troca de opiniões e para a degustação dos pratos preparados.

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  2. Zelia Marques Rodrigues 21/4 às 11:58
    Partilhei nas páginas de duas Amigas que vivem na Ericeira.

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  3. Alfredo Antunes 21/4 às 17:52
    Eu até gosto das duas!!! Da raia...e da Ericeira!!!!

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  4. Fabricio Bustillo 22/4 às 0:58
    Siempre tuve un sentimiento especial por Ericeira cuando me enteré que fue José Saramago después de recibir el Nobel y la cola para que le firme sus libros era interminable. El estaba seguro que muchos de esos pescadores jamás habían leído un libro suyo, pero estaban orgullosos de el y el mismo estaba muy conmovido.
    GRANDE ERICEIRA !!!!

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  5. Manuel Mesquita 22/4, às 6:05
    Sublime prosa! :-) Vou levar!

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  6. Manuel Mesquita 22/4, às 6:05
    Sublime prosa! :-) Vou levar!

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