Bancos vazios, na saudade imensa de uma conversa de anciãos... |
Lembrei-me
de ver pelo meu concelho inúmeros recantos ajardinados assim, com bancos
vazios, na saudade imensa de uma conversa de anciãos ou de algazarra infantil.
E
recordei também uma outra história verdadeira, não sei em que país, onde um
ancião deixou parte da herança ao município para que mantivesse em bom estado o
banco onde ele passara muitas tardes, ju nto
ao curso de água que atravessava a povoação
e onde suavemente se entretinham os patos e suas crias e iam bebericar os
pardais – e ele entretinha-se a vê-los.
Ano
de eleições, este; ano de obras por toda a parte e o automobilista vê-se e
deseja-se para seguir as placas DESVIO,
sempre na dúvida, porém, se estarão actualizadas ou meramente esquecidas após o
termo dos trabalhos, que o empreiteiro partiu para outra e a placa ali ficou.
Soube, porém, que dessa vaquinha que dá pelo nome de Europa havia jorrado
leitinho fresco para vilas e cidades que dessem prioridade à construção de ciclovias. E hoje não há aglomerado urbano
que se preze que não tenha a sua ciclovia ou uma via pedonal, para o cidadão
correr, mesmo que se situe em movimentada rua, mais poluída que charco ao pé de
fábrica de químicos. Até Lisboa deixou de ser a cidade das sete colinas para se
enfeitar de ciclovias, daquelas que são óptimas numa planíssima Holanda ou nas
férteis planícies da nossa Gândara, onde as mulheres desde tempos imemoriais que
vão de bicicleta para a amanha do campo, enquanto o homem vai pró mar.
Lisboa,
porém, foi mais longe, porque, como se sabe, está deserta de portugueses e
prenhe de turistas. Uma imagem «chata», não há dúvida – que o estrangeiro vem e
até gosta de ver gente e ouvir falar uma língua que é a quinta mais falada no
mundo… E, vai daí, segundo consta, não esteve a autarquia com meias-medidas: contratou
figurantes para se passearem nas ruas habitualmente vazias e se sentarem nos
bancos plantados em meio da urbana poluição .
Não é genial? Pois a
informação vem numa reportagem que
João Aragão pôs no youtube – https://youtu.be/6frHVhxBoE0 – no
passado dia 20 de Março. Foi maldade!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 706, 15 de Abril de 2017, p. 11.
Isilda Marques, 19-04-2017, 19:36 h
ResponderEliminarFoi um prazer ler, até ao fim, este texto, onde as memórias passeiam, nos cantos e recantos, dos bancos do jardim, quem não tem memórias desse tempo de algazarras da infância, acompanhados pelo encanto no olhar e sabedoria dos mais idosos? Ó professor, grata por este momento onde viajei até à época em que havia mais tempo para se ser criança e até para se ser idoso. Um xi-coração.
Carlos Encarnação, 19-04-2017, 21:18 h
ResponderEliminarMoral da história: há bancos bons e bancos nem por isso...
O meu comentário:
Pois, amigo Carlos! :) Um abraço!
Teresa Silva
ResponderEliminarEste não é só um problema de Lisboa, há muitas outras grandes capitais que se "venderam" ao turismo com as consequentes descaracterização, massificação e encarecimento... eu sou lisboeta, nasci em casa da minha avó na Avenida Afonso III, mas há muito que deixei de ter gosto de ir a Lisboa, quando lá vou sinto-me turista...