domingo, 4 de fevereiro de 2018

Bailavam os corpos, bailavam os braços, bailavam os arcos…

            Pelo final da tarde neblinosa, o mar a cingir-se de cinza além no horizonte, bailavam os corpos, bailavam os braços, bailavam os arcos frenéticos no foyer panorâmico do Casino Estoril. Não se dava pelo tempo passar, inebriados que estávamos pelo melodioso encanto que, mui virtuosamente, rescendia do sexteto, de cada um dos seus elementos.
            Difícil será transmitir a ímpar experiência sentida, porque um concerto assim, executado por artistas de renome internacional, habituados a tocar nas mais celebradas salas de música do mundo, a um concerto assim raramente nos será dado assistir. Eu escrevi «assistir», mas essa não é, certamente, a palavra certa, porque a música penetrou intimamente, sem dúvida, nos 150 espectadores que, indiferentes à cacimba, os fomos ali escutar. Não assistimos: vivemos!
            Falar de virtuosismo é pouco; não acho, porém, outra palavra. O alemão Laurent Albrecht Breuninger fazia dançar o seu violino e todo ele vibrava: uma actuação inigualável! A seu lado, Maria Castro Balbi, francesa de origem peruana, não lhe ficava atrás – e do seu violino saíram melodias esplendorosas também. Bin Chao, de nacionalidade chinesa, que se mudou para Lisboa em 1991, foi exímio na sua violeta, ora em diálogo ora em sintonia com a violeta do português Alexandre Delgado, lisboeta. No som macio e grave dos violoncelos esteve a, também lisboeta, Irene Lima, docente de Música de Câmara na Escola Superior de Música e o russo Guenrikh Elessine, um duo amiúde em diálogo e a docemente responder aos ora maviosos ora estridentes agudos dos violinos.
            Foi o primeiro dia, sábado, 3 de Fevereiro, das Schubertíadas, uma iniciativa da Fundação D. Luís I e do Casino Estoril. Ouvimos, de Johannes Brahms, os quatro andamentos (deliciou-me, de modo especial, o scherzo do segundo) do «Sexteto de Cordas nº 2 em sol maior, op. 36»; após o intervalo, outro sexteto, neste caso em ré maior, o célebre «Souvenir de Florence», op. 70, de Tchaikosvki, cujo quarto andamento (allegro vivace), o final, exige dos executantes extraordinária precisão e que, francamente, a todos arrebatou, inclusive pelo transbordante entusiasmo com que os músicos a ele se entregaram.
            Momentos de sumo deleite, que dificilmente se olvidarão.
            As Schubertíadas prosseguiram no domingo, novamente a partir das 17 horas, com obras dos mesmos dois compositores, mas serão trios com piano: o nº 1 em si maior, op. 8, de Brahms, e a op. 50, «À memória dum grande artista», em lá menor, de Tchaikosvki. Ao violino, Laurent Albrecht Breuninger; ao violoncelo, Guenrikh Elessine; ao piano, o moscovita Alexei Eremine.

                                                                                  José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, 04-02-2018:

2 comentários:

  1. Assis Ferreira, segunda-feira, 5 de Fevereiro de 2018 19:34

    Um texto excelente e um comentário judicioso.
    Por alguma razão, a música é essa linguagem universal que dispensa palavras e globaliza sentimentos!

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  2. Assis Ferreira
    segunda-feira, 5 de Fevereiro de 2018 19:34
    Um texto excelente e um comentário judicioso.
    Por alguma razão, a música é essa linguagem universal que dispensa palavras e globaliza sentimentos!

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