Será
sempre assim? Terá sido sempre assim? É obrigatório que seja assim?
Estas,
as perguntas que, de olhos no infinito após os ter poisado no ecrã do
computador, se me martelaram na cabeça.
Se
calhar, foi, e nós nada mais somos do que a repetição
de tantos que, antes de nós, década após década, pensaram da mesma maneira,
tiveram a mesma reacção. Uns soçobraram,
talvez; outros encararam a realidade de peito aberto e abriram os baús para os
arrumar e alijar quanto neles, de desnecessário doravante, haviam ciosamente
guardado; outros, ainda, tentaram mudar de olhar e convencer-se de que quanto
se lhes antojava evidente não passava de mui ilusória miragem irreal.
Assaltaram-me,
impertinentes, estes pensamentos. Já não os tinha há muito, embalado – graças a
Deus! – pelos afazeres quotidianos que não faltam e serenamente me preenchem os
dias. Não hesitei, porém, e recortei o penúltimo parágrafo da mensagem que a
minha colega endereçara a um Amigo comum. Chegou a ser Reitor de Universidade
durante largo tempo. Em breve se jubilaria. Transcrevo o recorte na língua original,
para que não perca o sabor:
«Tra qualche mese anche tu sarai “dei nostri”. Non
preoccuparti: i ritmi di lavoro non cambieranno, la gioventù continuerà a farti
rileggere quanto ha scritto e potrai dedicare alle tue ricerche tutto il tempo
che ora impieghi a riempire e-moduli dai nomi impronunciabili con i quali quest’università,
così lontana da quella che avevamo voluto e in parte realizzato, pensa di mascherare
la propria agonia».
Traduzo:
“Dentro de
alguns meses também tu serás dos ‘nossos’. Mas não te amofines – que não mudarão
os ritmos de trabalho, os jovens continuarão a dar-te a ler o que escreveram e
poderás dedicar à tua investigação o
tempo todo que ora empregas a preencher e-módulos de nomes impronunciáveis com
que esta universidade – tão longe daquela por que suspirámos e, em parte, lográmos
concretizar – imagina que consegue mascarar a sua própria agonia”.
«Velhos do
Restelo!», dir-se-á. E não posso deixar de concordar. «Velhos do Restelo»
somos. De vez em quando, em «velhos do Restelo» nos tornamos. Ou as circunstâncias
nos transformam…
¿Porque
será, pergunto-me agora, porque será que Luís de Camões imaginou, no solene
momento da mui gloriosa partida, essepara o canto IV d’Os Lusíadas, «velho d'aspeito venerando», que três vezes a cabeça
meneou e de «voz pesada» falou, «c'um
saber só de experiências feito»? No mar, então, ouviram-no «claramente». Agora,
será que inda há tempo para… ouvir?
José
d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 755, 2019-06-01, p. 11.
José Azevedo Silva
ResponderEliminarsegunda-feira, 3 de Junho de 2019 10:34
Obrigado pela partilha de uma pertinente reflexão pessoal, servida por um belo texto.