domingo, 30 de junho de 2019

Georges Dargent

            Reli «A Minha História de Vida», de Georges Dargent (Colibri, Câmara Municipal de Cascais, 2008), levado também pela vontade de evocar quanto fizera por Cascais no exercício das suas funções camarárias, no mandato de Helena Roseta (1983) como vereador responsável pelas finanças, e no seu próprio (tomou posse de Presidente em 1986).
           Uma singela autobiografia enriquecida com divertidos episódios que se não esquecem:
            – o do Hino da Maria da Fonte tocado em lugar d’A Portuguesa (p. 99);  
            – o das jovens loiras nuas assustadas (p. 106);
            – o munícipe que lhe mostrou um revólver (p. 106);
            – o do senhor que se regozijara por Georges Dargent não lhe ter passado pelas mãos (era o responsável pela morgue do Hospital de Santa Cruz!...) (p. 111).
            – o da jovem juíza que não percebera que «imprescindível para os serviços» equivalia a «urgente necessidade de serviços» (p. 168).
            Relevo duas passagens.
            1ª) A inauguração do cemitério-jardim de Trajouce e a emoção do saudoso Carlos Sota, então vereador responsável pelos cemitérios, como que num retorno à sua juventude salesiana, por o presidente lhe ter pedido para ler a epistola na missa inaugural: «Senti-me como quando era rapaz salesiano e obediente» (p. 146).
            2ª) A sua ideia de, na imprensa regional, (cito) existirem «dois jornais que normalmente só diziam mal do nosso trabalho, pois estavam ligados à oposição ou a interesses encapotados» (p. 174). Tive ocasião de, afavelmente (como sempre foi timbre no nosso constante relacionamento), lhe repetir aquela célebre frase «Olhe que não, olhe que não!», porque eu exercia, na altura, as funções de chefe de redacção do «Jornal da Costa do Sol» e era bem diversa a orientação que tínhamos. A sua opinião era, porém, compreensível, porque, de resto, a vemos igual (salvo raras excepções) em quem exerce funções autárquicas.
            Festeja «Costa do Sol – Jornal» o seu 6º aniversário. E a orientação continua a ser essa: a da independência dos poderes. Critica-se, com argumentos, quando é de criticar; louva-se, quando é de louvar. Privilegia-se a informação e deixa-se para os colunistas – oriundos, clara e expressamente, dos mais diversos quadrantes, a fim de se fornecer um leque de perspectivas – a formulação de opiniões, a apresentação de críticas, as tomadas de posição, que, mui naturalmente, não vinculam a posição oficial do jornal.
            Reza o seu Estatuto Editorial:
            «O Costa do Sol – Jornal compromete-se a separar, de forma inequívoca, a informação da opinião, sem prejuízo do dever e direito da interpretação dos fatores e da liberdade de expressão dos colunistas».
            Assim se tem feito. Assim se continuará a fazer, estou certo – e que o seja durante muitos anos!
                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 287, 2019-06-26, p. 6.

1 comentário:

  1. Há mui...tos anos assisti, na Gulbenkian, à Comunicação de um notável jornalista francês que, entre outras coisas, falava de objectividade jornalística. "Não há - dizia ele justificando porquê - o melhor é assumirmos as várias subjectividades".
    O esforço de alguns periódicos para manterem independência e isenção, é quase hercúleo, nos tempos de hoje, mas é de louvar a tentativa de captação de gente honesta como tu, meu Amigo e distinto Professor.
    Um grande abraço

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