E
a pègada que cada um de nós deixa e que todos desejamos seja boa. Como aquele
desejo de um autor religioso: «Que a tua vida não seja uma vida estéril. Deixa
rasto». Ou, como escreveu o imortal Antonio Machado,
Al
andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la
senda que nunca
se ha de
volver a pisar.
Recorda-se,
porém, inexoravelmente, a eterna «Balada da Neve» de Augusto Gil:
«E
noto, por entre os mais,
os
traços miniaturais
Duns
pezitos de criança...
E
descalcinhos, doridos...
A
neve deixa ainda vê-los,
primeiro
bem definidos
Depois
em sulcos compridos,
porque
não podia erguê-los!...
Estanquei
na silenciosa serenidade da manhã. Apenas esparso assobio de melro pela
encosta. Domingo. O parque, vazio. Viera ali passear com o «Spike». No saibro
fino, nítidos e lentos (imaginei!) os rodados das viaturas. Uns por cima dos
outros, num atropelo. Havia, no entanto, pègadas que particularmente me
chamaram a atenção. De pombos ou, mui provavelmente, dos casais de rolas que
amiúde se viam por ali. Nítidas também, muito nítidas. E lentas. Em passeio.
Primeiro, afastadas; depois, como quem se enamora e vai encontrar-se…
Na
brandura da manhã, dei comigo a pensar, olhando o chão, na terna lição daquele
casal. Eles pisaram os rastos dos automóveis, eles deixaram tranquila marca da
sua presença…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 756, 2019-06-15, p. 11.
Que lindo texto, tão poético, de respiração tão fresca. Já dei comigo também encantada com o que parecia um rosário imenso desenhado na areia, cada pegada, uma conta, três riscos em diferentes direcções, como trevo estilizado. É preciso madrugar para sentir a Natureza e os animais que a habitam. E deixam marcas...Como nós, seja qual for a força da incisão. Beijinhos e para béns
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