quinta-feira, 20 de junho de 2019

Vamos lá embora pró Cobre!

             Estava-se em Abril de 1989. A determinado momento, já me não lembro por que razão, alguém cantarolou em cicio, no decorrer de uma das pausas-café (creio) das «II Jornadas de Arqueologia do Nordeste Alentejano», em Monforte: «Vamos embora para Barbacena!». A melodia viva, ritmada, bem aciganada, que hoje pode ser ouvida em https://www.youtube.com/watch?v=7EnWqwVbi8Y, pela voz de JoséLito Maia, electrizou o pagode e foi repetida amiúde durante as Jornadas, esfusiante.
Se for em frente, como a placa preconiza, o transeunte dificilmente chegará ao Cobre!... O Cobre é... para a esquerda!

            De vez em quando, ao descer a Estrada da Malveira quase a chegar ao cruzamento de Birre, topo com a placa anexa e dá-me vontade de cantar «Vamos embora pró Cobre!», com a música do JoséLito. O diabo da canção é gira, boa para gingar e eu acho que o forasteiro que não saiba onde fica o lugar do Cobre, bem gingará por aqui e por ali e bem pode cantar «Vamos embora pró Cobre!» que não chegará lá de certeza.

            E perde uma boa visita.

            Não, embora oficialmente uns senhores ignorantes do que se passa cá pelo burgo (e os que deviam saber nem se ralaram nada com isso) tenham pespegado que são no Cobre o Hospital da CUF Cascais e o Centro de Distribuição Postal dos CTT (logo estes, imagine-se!...), não, ambas estas instituições, que muito prezo, se localizam não no Cobre mas no Bairro da Pampilheira, que é extensão da antiga Barraca de Pau.

            No Cobre, há outras, também elas dignas da maior consideração.

            Para já, diga-se que o lugar é um dos mais antigos da freguesia de Cascais. Tinha quatro vizinhos (ou seja, quatro famílias) em 1527 e 14 em 1758 (como reza o relatório do prior da paróquia da Ressurreição). O abastecimento de água data de 1922, como se lê no chafariz junto ao tanque de lavar público, no coração do lugar.

            Para além de estabelecimentos comerciais, como restaurantes, cafés, talho, lugar de frutas, é orgulho da população a escola «primária» (dir-se-ia antigamente), doada pela Associação de Moradores à Câmara e que, hoje, integra o Agrupamento de Escolas da Cidadela. Chegou a ser chamada Birre 2, quando havia a mui vetusta Escola de Birre (continuo a achar que não se andou bem em extinguir esta, de mui enorme tradição republicana), que era a «mãe», a Birre 1.

            Lugar de passagem de eleição para quem vai para a 3ª circular ou dela vem para Cascais Oeste (fugindo à sempre congestionada rotunda de Birre), mantém a característica das terras de antigamente: as casinhas foram sendo construídas de um lado e doutro da rua. Foram-se ocupando depois os matos e os terrenos agrícolas que lhes ficavam nas traseiras; mas a ideia de vivendas predominou e, se exceptuarmos o movimento rodoviário em horas de ponta, é lugar pacato, onde as ruínas de um moinho lá no cimo, como que a vigiar a 3ª circular, dão conta da tradição agrícola. Aliás, quando o donatário (conta o Padre Marçal da Silveira) quis que se incrementasse a agricultura desta banda da Ribeira das Vinhas, um tudo-nada abandonada por medo dos Mouros, de pronto os saloios do Cobre e de Birre se dispuseram a isso, assim como a fazerem a vela de noite na véspera de S. Bento. Gente, portanto, que nunca deixou os seus louros por mãos alheias!

            Pois então, por mor dessa abençoada placa que há anos indica erradamente a direcção do Cobre e não há vivalma que seja capaz de a corrigir, nem mesmo em véspera de campanhas eleitorais, se o JoséLito Maia quisesse cantar «Vamos lá embora pró Cobre», tinha mesmo dificuldade em indicar o caminho!


                                                           José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 285, 2019-06-12, p. 6.

5 comentários:

  1. Pois eu também acho mal que a escola de Birre tenha sido extinta, a tão pouco tempo de completar 100 anos de efectivo funcionamento... Coisas do falso progresso, e assim se vai acabando com tudo o que funciona bem!

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  2. Bem me lembro desse ano de 1989 em que íamos jantar a Monforte e passámos por BARBACENA.
    Foi sem dúvida um "entusiasmo" total quando se entoou essa "canção" muito regional.
    É sem dúvida que não se consiga obter o desejado no artigo/nota tua.
    Uma pergunta que me veio ao recordar a letra. Poder-se-ia referir, mais tarde, as "meninas" do COBRE com as virtudes das meninas de BARBACENA?
    BEN HÃJAA por recordares esse bons momentos.
    Um abraço Eu

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  3. Momentos de então...conhecimentos de hoje e de sempre. Que bom ter quem escreva assim e dê referências dos lugares que, tendo tido importância, antigamente, ainda continuam a trazer ecos do que foi e poderia ter sido.
    Um grande abraço
    Madalena

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  4. Carlos Carrasco
    quinta-feira, 20 de Junho de 2019 18:32
    Obrigado pela partilha.
    Embora não habite no Cobre tenho reparado no erro da placa!

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  5. Eduardo da Naia Marques
    quinta-feira, 20 de Junho de 2019
    Vivo no Largo do Cobre, em frente do “XIRIPITI” e pegado a uma loja de comidas/café que já se chamou “Scones da Vila”. É um lugar “esquecido” pela CMC, com uma curva de “morte”, sem controlo de velocidade, sem passadeiras de peões adequadas às intensas necessidades, e com um estacionamento indisciplinadíssimo. Não há um verde e o chafariz merecia um arranjo mais digno. Há 20 anos que vamos tendo dificuldade em entrar e sair com o carro. A falta de civismo é notória. Chegou ao ponto de, um dia, quis sair de casa, o que é legítimo, ter um auto parado defronte ao portão, e aos dez minutos de buzina, resolvi entrar no café e indagar pelo proprietário. Acusou-se um “cavalheiro”, que, com uma enorme desfaçatez, me afirmou: “Sim, sim, deixe-me acabar de tomar o pequeno almoço que já vou “tirar” !!!!!!!!!
    Nunca, em 20 anos, lá vi a Polícia de Trânsito actuar pelas permanentes transgressões…
    Devem estar à espera que morra um peão naquela curva…
    UM ABRAÇO XL, com toda a consideração,

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