Queira-se,
ou não, fazem-nos companhia, mesmo quando habitamos em agitado meio urbano. Há
sempre alguma ave que nos espreita.
Gosto de almoçar vendo da janela
os melros e as rolas irem até à pia que jeitoso canteiro são-brasense afeiçoou
e ali se dessedentarem ou banharem-se de contentes.
José Manuel Durão, morador resvés
do Parque Urbano da Ribeira dos Mochos, em Cascais, também não resistiu a essa
sedução e, meses a fio, foi captando com a sua objectiva as poses dos pássaros
que avistava. Dessa mui saudável iniciativa viria a nascer o cativante livro Aves
da Ribeira dos Mochos, editado pela Câmara Municipal de Cascais em Julho de
2010.
Um pouco mais para norte, na Mata
Municipal do Bombarral, também a passarada abunda, aí se refugiando das
adversidades urbanas. E aí a foram surpreender Hélder Cardoso e Marco Nunes
Correia.
O Hélder, nascido nas Caldas da
Rainha em 1984, especializou-se em monitorização de aves selvagens (captura e
anilhagem) e realiza-se como guia de observação de aves.
Marco Nunes Correia (Alcobaça,
1973), licenciado em Design de Comunicação, tendo também participado em actividades
de monitorização de avifauna, assume-se como ilustrador nato, com experiência
posta em prática em expedições na Amazónia, em S. Tomé e Príncipe e em áreas
protegidas de Portugal.
A dupla ideal, portanto, para
concretizarem a elaboração do Guia das Aves da Mata Municipal do Bombarral,
magnífica edição (de 2000 exemplares) da Associação de Defesa do Rio Real, com
o natural apoio da Câmara Municipal do Bombarral. É esta uma das primeiras
associações criadas para a defesa de um rio, neste caso, o Real, decerto pouco
conhecido: nasce na Serra de Montejunto, percorre 33 quilómetros e desagua na
Lagoa de Óbidos.
No livro, cada ave tem a sua bem
pormenorizada ficha na página da esquerda: identificação, habitat, abundância e
distribuição em Portugal Continental, situação na Mata Municipal do Bombarral.
Tudo bem explicadinho por miúdos!...
E, na página da direita, a
excelente demonstração do rigor pictórico de Marco Correia, que não se
contentou com uma imagem, mas nos presenteia com várias: o macho, a fêmea, a
ave jovem, a adulta, o voo, «a vocalizar»!... Nem todos estes tópicos se
apresentam e, por vezes, há outros, como o ninho ou o instantâneo daquele
tordo-músico partindo caracóis, utilizando uma pedra como ‘bigorna’. Um mimo!
Sabe-se como há quem faça grandes
deslocações para usufruir do encanto da observação das aves. De resto, é o birdwatchting
é uma das actividades turísticas com cada vez maior número de adeptos.
Acontece que as aves não nos
oferecem apenas suas vistosas plumagens e seu alegre gorjear: são também
motores de um ecossistema, que importa preservar. E se no Parque Urbano da
Ribeira dos Mochos e na Mata Municipal do Bombarral elas se sentem bem é porque
aí o ambiente lhes é propício. A nós, humanos, a obrigatoriedade de com elas
colaborar.
Nesse sentido, as 80 páginas do livro
de Hélder Cardoso e Marco Nunes Correia, dotadas, no final, de um índice por
ordem alfabética, constituem obra de muito aplaudir!
José d’Encarnação
Publicado em Duas Linhas,27-08-2022: https://duaslinhas.pt/2022/08/a-seducao-dos-passaros/
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