terça-feira, 29 de outubro de 2013

Na prateleira 11

Um cinzento dia-a-dia
            – Ah! António, então, tudo bem?
            – Cá estamos!
            As frases feitas, a resignação perante um dia-a-dia cinzento? A vida como um carrego a suportar.
            Confirmei-o com o resto da conversa: mortes, desgraças, «apareceram-lhe bolhas por todo o corpo»…

Governar é muito difícil
            Um antigo governante me dizia que «política é uma arte nobre». Também me parece que sim. E bem difícil deve ser. Eu vejo por aquele caso do senhor que tem cães e os deixa defecar na placa relvada em frente de uma creche e de uma venda de comida. Já lhe disseram vezes sem conta que há saquinhos no poste ao lado e que esses saquinhos são para apanhar os dejectos dos canitos. O senhor não percebe. Portanto, se uma recomendação tão simples e tão evidente não se acata, como poderemos pensar nas mais complexas? Difícil de governar é o povo!...

Nenhum  empregado
Aida admirou-se:
– Como é? Vocês aqui têm tão poucos empregados? Precisamos de esperar que um esteja livre para nos atender? No Brasil, fazemos questão em o cliente ser atendido na hora; por isso, multiplicamos os empregados até ao limite do necessário.
Lembrei-me desta frase da Aida quando, num destes domingos, percorri toda uma pequena superfície comercial à procura de um empregado que me orientasse os passos em direcção a um artigo que não encontrava. Não havia nenhum. E foi um outro que até nem era do sector que se disponibilizou para me ajudar.
Com esta ‘pancada’ de diminuir o pessoal a qualquer custo, há extremos que estão a atingir-se e a afugentar clientela, que não se compadece com escusados tempo s de espera. A manutenção do IVA a 23%, por exemplo, está a contribuir eficazmente para que se corte nos empregados de mesa. E custa bastante ter de esperar num restaurante para ser atendido. Pensa-se duas vezes se não é melhor ir almoçar a casa.
            Quem está muito alto – já lá dizia alguém – não consegue ouvir a voz da Razão.

O táxi na Clínica
            Foi criado um lugar de táxi junto à Clínica CUF Cascais. Aplaude-se a iniciativa e, agora, há que motivar os taxistas a estacionarem por lá. A Pampilheira era dos poucos bairros suburbanos da vila de Cascais que não tinha praça de táxis.

Ainda as eleições em Cascais
            106 988 eleitores – e eram 172 537 os inscritos! – não compareceram ao acto eleitoral. Dos 65 549 que participaram, 5 951 votaram em branco ou anularam o boletim de voto. Bastaram os votos de cerca de 2,7% dos eleitores para eleger um vereador!...
            Gosto de dar uma olhadela ao que se passa com a mesa 28, uma das que integra os eleitores mais antigos da vila de Cascais, teoricamente os mais ligados ao seu passado e ao seu futuro, porque foi aqui que nasceram (na sua maioria) e por aqui se têm mantido; em teoria, portanto, aqueles que mais sentem a vila como sua. Os resultados foram, a meu ver, sintomáticos e dignos de uma reflexão.
            Assim, no que se refere à Câmara Municipal, estavam inscritos nessa mesa 1170 eleitores; votaram 452, ou seja, 38,6%; a abstenção foi, portanto, de 61,4%. E votaram em branco 2,9%, isto é, 13 eleitores, tendo anulado o voto 4,4% (20 eleitores).
            Nessa mesa, cingindo-me apenas à votação para a Câmara, a coligação VivaCascais obteve 53,54%, ou seja, se as minhas contas não falham, 240 eleitores (dos 1170 que estavam inscritos). O 2º lugar pertenceu ao PS, com 21,7% (98 votos); a CDU foi a 3ª força política votada (8,2%): 37 votos; e o Movimento SerCascais obteve 6,4% (29 votos).

Dois recortes
            No dia 9, na antena da Rádio Renascença, o padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade:
            «Neste momento, o sustentáculo de muitas famílias são os seus idosos, que, com as suas parcas reformas ou pensões de sobrevivência, estão a pagar os estudos dos netos, a suportar os custos dos filhos que estão desempregados».
            Nesse mesmo dia 9, José Pacheco Pereira afirmou, no ‘Jornal das 9’ da SIC Notícias, que «a grande dificuldade é que os nossos governantes, quando falam português – o que nem sempre acontece –, não se explicam, não se querem explicar e querem enganar».

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 19, 23-10-2013, p. 6.

Sem comentários:

Enviar um comentário