segunda-feira, 23 de junho de 2014

Evocação da arqueóloga Helena Frade (02-08-1957 / 20-06-2014)

            Causou a natural consternação o súbito desaparecimento de Mestre Helena Frade, que fora, até há poucos meses, arqueóloga da Direcção Regional de Cultura do Centro, tendo-se aposentado devido às perturbações, ao nível cardiovascular, de que há vários anos padecia.
            Maria Helena Simões Frade nasceu em Lavacolhos, Fundão, para onde se realizou o seu funeral, no final da tarde de sábado, dia 21. Licenciou-se em História, na variante de Arqueologia, em 1979, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, e nessa mesma escola defendeu, em 2002, a tese de mestrado em Arqueologia Romana, intitulada Centum Celas: uma villa romana na Cova da Beira (disponível em http://hdl.handle.net/10316/9773), que preparara sob orientação do Professor Jorge de Alarcão.
            Começou a sua vida profissional no ano lectivo de 1979/1980, como docente dos ensinos básico e secundário, em escolas de Vila de Rei, Crato e Anadia, ingressando, em 1983, para o Serviço Regional de Arqueologia da Zona Centro, funções em que se manteve, nos diversos organismos que se sucederam a esta estrutura regional da Secretaria de Estado da Cultura.
            Fora casada com José Carlos Caetano, também ele precocemente arrebatado do nosso convívio, e com o qual trabalhara, por exemplo, na Lage do Ouro (Crato), necrópole romana cuja meticulosa escavação muito contribuiu para o conhecimento das práticas funerárias na Lusitânia (veja-se, a título de exemplo, a comunicação «Ritos funerários romanos no Nordeste Alentejano» feita ao 2º Congresso Peninsular de História Antiga. Actas (Coimbra, 18-20 de Outubro de 1990), Coimbra, 1993, p. 847-872).
            O nome de Helena Frade fica indelevelmente ligado a sítios arqueológicos onde a sua acção foi deveras marcante: as termas de S. Pedro do Sul, o anfiteatro de Bobadela, em Oliveira do Hospital («A arquitectura do anfiteatro romano de Bobadela», Colóquio Internacional ‘El Anfiteatro en la Hispania Romana’ (Mérida 1992), Mérida, 1994 349-371), Almofala («A Torre de Almofala», Actas das IV Jornadas Arqueológicas da Associação dos Arqueólogos Portugueses (Lisboa 1990), Lisboa 1991, 353-360) e Centum Celas («A torre de Centum Cellas (Belmonte): uma villa romana», Conimbriga 32/33 1993-1994 87-106).
            Integrou também, de 1980 a 1983, a equipa luso-francesa de arqueólogos que escavou a villa romana de S. Cucufate.
            A experiência assim adquirida levou-a, pois, a interessar-se de modo especial pelos ritos funerários romanos e pela problemática das termas, tendo nesse âmbito preparado (e publicado) comunicações em reuniões científicas nacionais e internacionais e artigos, porque foi seu timbre dar a conhecer o que lograra investigar, por exemplo na Informação Arqueológica, enquanto esse oportuno órgão existiu. Por isso foi convidada a participar com textos de síntese acerca dessas temáticas no II volume (O Mundo Luso-Romano) da História de Portugal publicada, em 1993, por Ediclube (p. 331-340, sobre os ritos, e 350-355, sobre as termas).
            Helena Frade pautou o seu modo de estar na vida – nomeadamente na profissional – pelo rigor, pela frontalidade, pela vontade de contribuir para a melhoria das pessoas e das instituições. Nem sempre terá sido compreendida, sabemo-lo os que de perto a acompanhámos; mas sabemos quanto era lídima a sua intenção. A saúde não a ajudou; a morte prematura de seu grande companheiro de lide, a 25-01-2006, determinou muito a sua atitude. Fica-nos, pois, a saudade de uma lutadora por ideais; de uma Amiga; de uma arqueóloga competente e cumpridora.
            Que Deus lhe dê o eterno repouso!

Publicado em Cyberjornal, edição de 22-06-2014:

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