Não
havia, pois, razão, até porque as suas gentes e o seu território ostentavam uma
identidade muito própria, para se manter integrada num concelho cuja sede
estava junto ao mar. Assim, após porfiados esforços e diligências, lograram João
Rosa Beatriz e os seus companheiros que fosse aprovado e publicado em Diário
do Governo, a 1 de Junho de 1914, o diploma que elevava a concelho a
freguesia de São Brás, com a denominação de Alportel.
Houve,
pois, razão sobeja para que, no passado dia 1, se desse início a vasto programa
de iniciativas que visam comemorar condignamente esse centenário.
A
jornada começou às 10 horas com a presença frente aos Paços do Concelho, para o
solene içar das bandeiras, de todas as forças vivas são-brasenses. Perante elas
e apareceu inesperadamente à janela «João Rosa Beatriz», a falar aos seus
concidadãos e a incitá-los a manterem-se são-brasenses de corpo inteiro, fazendo
jus à luta que lograra obter, há cem anos atrás, tão auspiciosa vitória.
Seguiu-se
vistoso cortejo, a que o variegado colorido dos estandartes e dos trajes
típicos de cada entidade ali representada emprestou beleza singular. O destino
era a Praça da República, espaço até ao momento sem outro préstimo que improvisado
parque de estacionamento. Descerrou-se a placa – a enaltecer o republicanismo
dos fundadores do concelho – e, mui organizadamente sentadas as várias representações
que por completo encheram o espaço disponível, deu-se início à sessão solene.
A
medalha do centenário foi entregue às entidades que exercem a sua actividade no
concelho nos mais diversos domínios. Intervieram, sempre numa tónica
entusiasmada e de evocação do passado, de louvor ao presente e de esperança no
futuro, o presidente da Assembleia Municipal, o Comissário das Comemorações, o
Presidente da autarquia e o vice-presidente da Assembleia da República
(Guilherme Silva). Foram, por fim, agraciadas com as insígnias municipais
entidades e personalidades que se distinguiram em prol da comunidade.
Dado
ser também o Dia da Criança um dos jardins da vila, o Jardim Carrera Viegas, foi palco das mais diversas iniciativas
para a pequenada.
Às 17 horas, inaugurou-se,
na Galeria Municipal, singela mas bem elucidativa exposição evocativa dos cem
anos do concelho e, às 18 horas, cumpriu-se a tradição de ir ao cemitério depositar
uma coroa de flores no jazigo do fundador do concelho.
À
noite, a Praça da República encheu-se de novo, agora para acolher o
entusiástico concerto de Miguel Gameiro & Pólo Norte. Cantaram-se os parabéns,
cortou-se o bolo – que foi servido a todos os presentes. Excepcional e invulgar
fogo-de-artifício, obra também de uma tradicional empresa local, a Algarpirotecnia,
a todos deliciou, a concluir.
Sito
bem no coração do Algarve, no Barrocal, entre a planície costeira e a Serra,
ponto de passagem entre uma e outra desde mui recuadas eras, S. Brás de
Alportel vive da cortiça, da doçaria, do cultivo de figueiras, oliveiras e
alfarrobeiras, sendo abundante em água. Por ali passaram romanos; por ali fez os
seus poemas o poeta árabe Ibn Ammar (1031-1086) e ali vendeu
cautelas e disse quadras ao desafio António Aleixo (1899-1949); e derramou seu
lirismo Bernardo de Passos (1876-1930)…
Pode acrescentar-se que, em torno do
seu Museu do Trajo Algarvio – na verdade, um museu regional no verdadeiro
sentido da palavra – sito em vasta casa senhorial bem no centro da vila, gira e
viceja toda uma vida cultural intensa, particularmente lançada para cimentar
comunidade não apenas entre os são-brasenses por nascimento mas também – e de
modo muito especial – entre os são-brasenses de adopção, ou seja, os membros
das várias ‘colónias’ estrangeiras que escolheram a amenidade do clima e as
belezas naturais de S. Brás para viver e delas plenamente usufruírem.
E durante os 365 dias das
comemorações maior será ainda esse interesse em manter o concelho entre aqueles
em que mui serenamente apetece viver. Não terá sido, aliás, por mera coincidência
que S. Brás de Alportel foi das primeiras vilas portuguesas a aderir ao
movimento slow cities, criado em 1999 para congregar ‘cidades’ «ajustadas
à escala humana, com os centros históricos preservados e os edifícios novos
harmonizados», tendo «como objectivo a preservação
das tradições locais e a promoção da qualidade de vida».
Publicado
em Cyberjornal, edição de 05-06-2014:
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