terça-feira, 15 de dezembro de 2015

E este é pró gatinho!

            Sempre me habituei a comer peixe. Meu pai fora arrieiro antes de ir para a tropa e eu lembro-me bem das conversas que travava com a Alice peixeira ou a Carolina, quando vinham, depois da volta, à hora do almoço, de canastra quase vazia, tentar vender-lhe o resto das sardinhas ou dos carapaus. A disputa era: «Hum! Tu nem um cento de carapau tens aí!...». «Qual não tenho!», replicavam. «Ai não tens, não! Três quarteirõezinhos e já é muito!». Acabavam por contar e meu pai ganhava quase sempre e lá ficava com a teca.
            Quando não era essa cena, minha mãe comprava uma dúzia e, invariavelmente, a Sara punha 13 no alguidarito de barro, acrescentando: «Este é pró gatinho!».
O Sebastião
            Tudo isto me veio à mente agora, depois de, no curto espaço de meses, termos perdido três dos nossos gatos: o Sebastião, de pneumonia galopante, em três dias; o Peto e o Bebé, de insuficiência renal.
            O veterinário, aqui há anos, dizia-nos:
            ‒ Eu cá não tenho problemas! Se houver fome, amanho-me bem com a comida dos gatos e dos cães. Tem qualidade e os ingredientes precisos para uma vida saudável.
            Por isso e por via da publicidade, os nossos gatos passaram a comer ração. Quer biscoitos quer alimentos húmidos das latas. E lá íamos andando, até que, na clínica, começámos a ver que já começavam a existir doenças a mais. Então, insuficiência renal, a obrigar a comprimidinho diário em jeito de hemodiálise, estava a ser tema de conversa constante entre os donos e donas de cãezinhos e gatos que por lá víamos.
            E quando – com a mágoa que se adivinha – tivemos de nos despedir do Bebé, a veterinária segredou-nos:
            – Estamos a repensar tudo! O melhor, achamos nós agora, é ir entremeando a nossa comida, mesmo os restos (como se fazia no tempo dos nossos pais), com os ‘acepipes’ expressamente preparados para eles. Evitam-se, de certeza, esses casos – que estamos cheios de insuficiências renais…
            Gostei deste retorno ao que nossos pais nos haviam ensinado. E não pude deixar de pensar numa mensagem que há dias recebi, a propósito dos alimentos, a verdade e a mentira. Nela se diz, por exemplo, a propósito do peixe azul (atum, sardinha, cavala…):
             Antes: têm elevado teor de gorduras, devem evitar-se.
            Agora: são ricos em ómega-3, uma gordura que mantém a integridade das células do organismo, há que comê-los!
            Claro! Guardei religiosamente esta mensagem do antes e do agora! Até por mor dos meus gatos!
                                                                                  José d’Encarnação

Publicado no quinzenário Renascimento (Mangualde), nº 675, 15-12-2015, p. 20.

1 comentário:

  1. Margarida Lino 16/12 às 20:56

    Infelizmente agora nem os gatos escapam,com tanta droga nos alimentos! É inaceitável!

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