quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Escarapão

             Contou-me o amigo Vítor Barros, que mora na Fonte da Murta:
            - Hoje fui almoçar lá acima, junto àquela ruína, à casa da minha mãe. Muito, muito vento por lá, de maneira que ela, quando eu cheguei, suspirou:
            - Hoje, tá cá um escarapão!…
            Claro, também ele foi ao dicionário.
            - Aí, a palavra tem outro sentido… Terá a ver com as escarpas junto ao mar? Lembro-me de Sagres, pois quando lá vou o vento açoita sempre aquelas enormes encostas de rochas… Desde pequeno que a oiço ali na boca da minha mãe e avós. Já lhe perguntei o que era um escarapão e diz-me sempre que é quando faz muito vento. «Então não vês? É como está hoje!».
            O dicionário diz de escarapão que se trata da designação dada a uma «pessoa ríspida, de maus modos» e, curiosamente, também é escarapão uma «cobra não venenosa»! E chama-se escarapela a «briga em que os contendores se arranham ou arrepelam»…
            Um vento cortante pode ser, pois, uma escarapela em ponto grande, porque, se não nos acautelamos, bem nos agatanha orelhas e nariz, o marafado!...

                                                           José d’Encarnação

Publicado em VilAdentro [S. Brás de Alportel] nº 203, Dezembro de 2015, p. 10.

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