terça-feira, 2 de abril de 2019

Vestir as árvores... na Marinha Grande!

               De muito louvar todas as iniciativas tendentes a mostrar aos jovens que, afinal, somos cidadãos do Mundo e que cada país tem uma identidade a respeitar, por nela se consubstanciar toda uma memória a enriquecer.
            Tanto a imaginação dos docentes como a dos estudantes não têm limites – não podem ter limites! – para o incremento dessa mui importante consciencialização.
          No caso da Escola Calazans Duarte, da Marinha Grande, que tem, por exemplo, uma publicação mensal – o P&V (Ponto & Vírgula) – aberta à colaboração de professores e de alunos, essa dimensão universal ganhou asas. Para já, o P&V de Março foi dedicado à Lusofonia e teve direito a ser suplemento do jornal local, com artigos sobre as sete partidas do Mundo por onde andaram portugueses.
            E foram mais além: vestiram hoje seis árvores no jardim da Escola com mantéis feitos com bandeiras, em croché, de 26 países – como as imagens documentam!
          Uma obra deveras singular, emotiva, em que toda a Comunidade Escolar briosamente se empenhou!
            Parabéns!
                                                       José d’Encarnação

Publicado em Cyberjornal, edição de 2.03.2019:
 
                                                                               

1 comentário:

  1. Vidas em naperons

    Na qualidade de coordenadora do Projeto REEI da Escola Calazans Duarte, da Marinha Grande, a Professora Alice Marques proferiu, ontem, dia 2, o «Discurso de Inauguração das Árvores Coloridas», projecto integrado na Semana da Educação daquela Escola.
    Transcrevo, com a devida vénia, o princípio e o parágrafo que antecedeu os agradecimentos finais a quantos colaboraram na concretização da ideia.

    Este projeto, a que chamamos Árvores Coloridas, tem, no meu discurso, um título mais afetivo: Vidas em Naperons.
    Quando em novembro de 2018, por sugestão da professora Graça Sapinho, lançamos à comunidade o desafio “Árvores Coloridas”, estávamos longe de imaginar a adesão entusiástica das dezenas de pessoas que contribuíram para tornar possível este momento.
    Conscientes de que “vestir” árvores se tornou quase um desígnio nacional, desde que Joana Vasconcelos passou a usar estes materiais como matéria prima para as suas instalações, e tendo em conta as 26 nacionalidades dos alunos das escolas do Agrupamento, pensamos que devíamos e podíamos fazer a diferença.
    Como? Estabelecendo como objetivo “vestir” o eucalipto do jardim da Calazans Duarte com um mantel feito de bandeiras desses 26 países.
    Boca a boca, fomos passando a ideia e, só na Calazans Duarte, em 15 dias, foi possível arranjar duas dezenas de professoras, alunas, ex-alunas e funcionárias que se comprometeram crochetar ou tricotar essas bandeiras. A lista de “crocheteiras” não parou de crescer até às vésperas das férias de Natal.
    Em janeiro de 2019, começaram a chegar as bandeiras: pequenas, grandes, tricotadas ou crochetadas, com ponto apertado ou largo.
    Muitas mulheres recuperaram esse saber de meninas e lançaram-se ao crochê com um tal entusiasmo, literalmente viciaram-se, que, em meados de janeiro, acorriam a pedir mais linhas para fazer mais bandeiras. Até na Moldávia e na Ucrânia, familiares de alunas se lançaram a tricotar bandeiras. Eu própria dei comigo a passar noites à lareira a crochetar bandeiras, substituindo os livros ou os filmes pela lengalenga mental “laçada, volta, aberto, fechado…”. Foi assim que surgiram bandeiras duplicadas, triplicadas e até quadruplicadas.

    […]
    Nestes mantéis que agora “vestem” estes pinheiros e o eucalipto, símbolos da interculturalidade, as peças continuam a contar histórias. A história do que foram: laços inter-geracionais, mudança de móveis, mudança de gostos; a história daquelas a quem pertenceram: raparigas ansiando pelo casamento, mulheres ocupando o tempo à lareira, em noites frias de inverno ou em tardes soalheiras, mães fazendo o enxoval das filhas, avós orgulhosas de peças minuciosas e perfeitas. A história de hábeis mãos que “passavam laçada, davam volta, um fechado, um aberto…”. A história de ocupar o tempo, passar o tempo, matar o tempo. Milhares de horas de histórias de vidas!

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