quarta-feira, 18 de setembro de 2019

A alternativa

            – Está de serviço a Farmácia Nêspera!
            – Bolas, logo essa! Onde é que se vai estacionar o carro?...
            Ouvi. Magiquei no que poderia ser uma reacção alternativa, melhor:
            – Boa! Há um ror de tempo que não vou ao centro da vila! Sempre é um pretexto para ver como o alindaram agora!
ooo
            A condutora teve de fazer uma manobra rápida para fugir a dois inesperados buracos da rua.
            – Queres atirar o carro para onde? (o tom, áspero, de censura).
            A alternativa:
            – Boa destreza, menina, boa destreza! Aliás, eu até acho que eles deixam os buracos para nós treinarmos a condução!... (E a gargalhada soaria).
ooo
            – Telefonou a Genoveva a saber como decorrera o funeral da Marquinhas.
            – A senhora foi enterrada, não?
            A alternativa:
            – Sempre uma atenciosa, a Genoveva. Ela adorava a Marquinhas e não pôde ir ao enterro.
ooo
            O Artur bateu com a janela um tudo-nada mais forte.
            – Foi pena não a teres partido! (A voz era agreste, maldosa!...)
            A alternativa:
            – A aragem ia-te enganando!... Vá lá que conseguiste tirar o dedo a tempo!…
ooo
            Poderia continuar a lengalenga de flagrantes da vida real, em que a palavra violenta detém primazia. Palavra que, no fundo, ainda massacra mais quem a diz do que os alvos que atinge. Faz pena!
            Cenas tão correntes, afinal, no dia-a-dia, sem que do seu reflexo emocional raramente nos consigamos aperceber. Setas venenosas que ferem mesmo! Em primeiro lugar, quem as desfere também!
                                                                       José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 761, 2019-09-15, p. 11.

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