Primeiro,
porque, no dia-a-dia, cada vez andamos a repetir as frases. Nem sempre temos
sorte e, por mais que a água bata na pedra, há pedras duras de mais e não
passamos da cepa torta!
Depois,
porque se está a tornar um hábito repetir a pergunta que nos fazem. Sei que, em
ambiente de exame, o aluno repete não apenas para se aperceber se compreendeu a
questão, mas também – e sobretudo! – para ganhar tempo, pois a repetição lhe dá
azo a repensar na resposta.
Em
terceiro lugar, porque Amália Rodrigues agradecia sempre três vezes os aplausos
e agora é que eu apreendi que se deve agradecer três vezes: bem hajam! Bem hajam!
Bem hajam!...
Neste
caso, a minha intenção foi partilhar uma ideia. Aquela do copo meio cheio ou
meio vazio, a visão optimista ou a pessimista.
Todos
a conhecemos e aproveito a pausa de Agosto – mesmo que não estejamos em férias,
o País pára bastante, há menos trânsito, menos correio, muita repartição a meio
gás… Gosto mesmo do mês de Agosto por causa disso, até há menos cães a passear
e o meu Spike anda mais à vontade!...
Pensei
em frases negativas que oiço e aqui vão algumas, susceptíveis de denunciar como,
amiúde, não estamos bem connosco nem com o mundo em que vivemos, o nosso mundo
de familiares, dos amigos e dos vizinhos… assim como o mundo em que os políticos
nos obrigam a viver….
«Tem
avondo!» – desta gosto. É a frase que podes dizer quando te põem um bom vinho
no copo e te parece que já chega. Claro, aplicada à política, às asneiras
cometidas por quem não vive o País real, «tem avondo!» é o mesmo que dizer
«Chega! Vocês não percebem nada disto! Desçam à realidade!»…
Há
frases e palavras de que eu não gosto:
–
«Isto é tudo uma porcaria!».
Não
gosto da palavra nem da frase. Primeiro, porque muitos dias como carne de porco
e sabe-me bem; depois, porque, o porco já não é criado, hoje em pocilgas
mal-cheirosas; e, em terceiro lugar, porque nem tudo é sujidade o que se vê.
–
«Estou farto disto tudo!»
Se
calhar, não. O menino só está cansado é dalgumas coisas; mas… a culpa não será
sua, de lhes dar importância de mais?...
–
«Bolas! Estás cheio de pêlos dos gatos! Nunca estás atento! É sempre assim! Todos
fazem o mesmo!».
Cheio, nunca, sempre, todos – vocábulos
que nos enchem a boca. Felizmente, porém, não enchem (não deviam encher!...) os
nossos dias!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 760, 2019-09-01, p. 12.
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